Alegrei-me quando me disseram:
Vamos à casa do Senhor. Os nossos pés estão dentro das tuas portas, ó
Jerusalém. Jerusalém está edificada como uma cidade que é compacta.
Onde sobem as tribos, as tribos do
Senhor, até ao testemunho de Israel, para darem graças ao nome do Senhor. Pois
ali estão os tronos do juízo, os tronos da casa de Davi.
Orai pela paz de Jerusalém; prosperarão
aqueles que te amam. Haja paz dentro de teus muros, e prosperidade dentro dos
teus palácios. Por causa dos meus irmãos e amigos, direi: Paz esteja em ti.
Por causa da casa do Senhor nosso
Deus, buscarei o teu bem.
(Salmos 122:1-9)
Em
minha postagem anterior aqui no Blog, falei a respeito da forte influência do
liberalismo teológico, como também das opiniões de Martinho Lutero – famoso
reformador alemão – na construção de ideologias e fundamentos para o massacre
feito por Hitler durante a Segunda Guerra Mundial. Todavia, essa rejeição ao
povo judeu – podemos falar de ódio contra essa etnia – teve início muito antes
do século XIX. O ódio aos judeus está enraizado na tradição teológica da Igreja
desde 115 d.C. Muitos pais da Igreja traziam afirmações como: “Nós somos a
verdadeira raça israelita.”; “Vocês agora sofrem com justiça, tornaram-se um
povo anulado e completamente rejeitado por Deus.”; “Eles mataram o Messias, o
nosso Jesus.”. Essas e muitas outras afirmações serviram de base para legitimar
mais de 2.000 anos de perseguição, extermínio, expulsão territorial e muitas
outras formas de privação de direitos civis e humanos contra os judeus.
Joel
Richardson em seu livro: Quando um Judeu governar o mundo, traz esse sangrento
traçado histórico a respeito de como a Igreja, desde seus primórdios, rejeitou
e perseguiu o povo judeu. Se não houvesse conversão ao cristianismo, excluí-los
era a recomendação dada por renomados líderes daquela época. Quando a Igreja se
institucionalizou, por meio de Constantino em 313 d.C., a perseguição ganhou
caráter legal e era financiada pelo “Estado”[1]. A
leitura desses relatos me feriu profundamente, cada página que passava, eu
pensava e ao mesmo tempo orava com muito pesar: Meu Deus, que tipo de cristianismo é esse que matamos nossas próprias
raízes! Senhor nos perdoe por tanta cegueira! Nos perdoe por não levar suas
palavra a sério a respeito de Israel! Nos perdoe por matar seus irmãos, Jesus!
A
seguir, irei compartilhar alguns pontos a respeito da questão de Israel ao
longo dos séculos e a desconstrução de argumentos citados a cima, com base nas
escrituras. Meu desejo é que com essa leitura, seu coração possa ser partido na
presença de Deus em arrependimento pelos pecados de nossos pais. Que possamos
pedir graça ao Senhor, para não ficarmos cegos a ponto de cometermos os mesmos
erros de outrora.
Os
fundamentos da promessa e o Supersessionismo
O
supersessionismo é uma maneira de pensar a respeito do povo Judeu, dentro da teologia
cristã. Temos muitos teólogos renomados na atualidade que adotam essa vertente,
tanto confessionais quanto liberais[2].
Eles entendem tanto que Israel foi substituído pela Igreja, como também que
Israel não deve existir como nação ou etnia, os mais extremistas chegam a se
assemelhar com afirmações de grupos terroristas mulçumanos.
A
Palavra de Deus é muito clara em relação a Israel como povo de Deus, receptor
de promessas desde Gênesis a Apocalipse. A promessa feita a Abraão, por meio da
aliança estabelecida com o Senhor, é repetida de diferentes maneiras na Bíblia.
O Senhor faz questão dessa repetição em cada geração dos filhos de Israel, em
cada profeta maior e menor, percebemos uma promessa da restauração de Israel
como nação. Vemos que a rejeição e endurecimento do povo de Deus é temporário.
Vejamos o princípio da promessa, observe a descrição da aliança entre Deus e
Abraão:
E
disse-lhe: Toma-me uma bezerra de três anos, e uma cabra de três anos, e um
carneiro de três anos, uma rola e um pombinho. E trouxe-lhe todos estes, e
partiu-os pelo meio, e pôs cada parte deles em frente da outra; mas as aves não
partiu. [...] E pondo-se o sol, um profundo sono caiu sobre Abrão; e eis que
grande espanto e grande escuridão caiu sobre ele. [...] E sucedeu que, posto o
sol, houve escuridão, e eis um forno de fumaça, e uma tocha de fogo, que passou
por aquelas metades.
(Gênesis
15:9-10, 12 e 17)
O
peso do simbolismo dessa aliança é muito forte, o significado de partir os
animais ao meio e passar no meio deles era dizer: “Se eu não cumprir o que
estou falando, você pode me matar.”. Portanto, crer no cumprimento literal do
que Deus falou é o mais sensato. Afirmar, como os supersessionistas que: “Deus
não falou exatamente sobre essa terra em específico, ele prometeu uma terra,
então pode ser em outro lugar!”, Deus foi bem específico quanto a localização e
extensão da terra (Gn 15:18). Outra fala desse grupo é: “Israel foi substituído
pela Igreja, os verdadeiros filhos de Abraão. A Igreja é o verdadeiro Israel de
Deus.” Não há nenhum texto bíblico que afirme isso no Novo Testamento, o
apóstolo Paulo deixa muito claro como os cristãos devem agir em relação a
Israel.
Pergunto,
pois: Acaso Deus rejeitou o seu povo? De maneira nenhuma! Eu mesmo sou
israelita, descendente de Abraão, da tribo de Benjamim. Deus não rejeitou o
seu povo, o qual de antemão conheceu.
Novamente
pergunto: Acaso tropeçaram para que ficassem caídos? De maneira
nenhuma! Ao contrário, por causa da transgressão deles, veio salvação para
os gentios, para provocar ciúme em Israel.
(Romanos
11:1,2 e 11)
O
problema que observamos no decorrer do tempo, é que a maioria dos líderes /
pastores que foram levantados depois do primeiro século, não prestaram atenção
no que o apóstolo Paulo escreveu, e iniciaram um pensamento estranho a respeito
de Israel. Veja que Paulo deixa muito claro que Deus não rejeitou seu povo,
Deus não mudou seus planos em relação a Israel.
Outro
argumento usado de forma equivocada pelos líderes cristãos dos primeiros 1500
anos de igreja é que os judeus mataram Jesus, e a consequência disso é que todo
judeu recebia essa culpa geneticamente, e deveriam ser para sempre
amaldiçoados. Vemos nesse argumento um erro muito grande. Para rebatê-lo
podemos citar Isaías 53:6, esse texto mostra com clareza que foram os pecados
da humanidade que mataram Jesus, não apenas os pecados do povo Judeu.
Joel
Richardson mostra que além de todo o histórico de equívocos em relação ao povo
judeu, essa visão permanece na atualidade, por meio de teólogos e líderes renomados,
como N. T. Wright. Quando olhamos para a metade do século XX, e estudamos a
respeito desse período no qual milhões de judeus foram mortos pelo simples fato
de serem judeus, nos assustamos. São muitas as produções cinematográficas que
retratam esse período sombrio da história da humanidade, ficamos chocados e nos
perguntamos: Como isso aconteceu? Mas,
a pergunta a ser feita é: Como deixamos que isso acontecesse? Pois, os sinais
foram dados há muitos séculos antes.
Observe
a seguir, a semelhança entre os decretos feitos pela Igreja (enquanto Estado) e
as leis editadas por Hitler durante o Segundo
Reich.
As
semelhanças entre decretos da Igreja e os de Hitler
Em 306 a Igreja
decretou a proibição do casamento entre cristãos e judeus x Em 1935 o Estado
alemão proclamou a Lei para proteção do sangue e honra alemães, proibindo o
casamento entre judeus e alemães. Se caso acontecesse, o casamento estaria
passível de anulação.
Em 306, no mesmo sínodo
do decreto anterior, a Igreja proibiu cristãos e judeus de comerem juntos x Em
1939 os judeus foram barrados de entrar em vagões e diversos restaurantes.
Em 535 a Igreja proibiu
os judeus de ocuparem cargo público x Em 1933 todos os judeus da Alemanha foram
removidos do serviço governamental.
A Igreja em 538 proibiu
que judeus tivessem escravos ou empregados cristãos x A mesma Lei para a
proteção do sangue e honra alemães de 1935 proibia que judeus empregassem
cristãos como domésticos ou para outros fins.
O Papa Gregório IX, em
1242, persuade o rei da França a ordenar a queima de todos os Talmuds[3] e
livros judeus em Paris, mais de 12 mil cópias foram queimadas. Outras queimas
de livros como essa foram repetidas nos séculos seguintes. Martinho Lutero
afirmou que os judeus deveriam ser privados de seus livros de oração, em 1543 x
Os nazistas se engajaram na queima de livros em larga escala (1933).
Em 692 os cristãos são
proibidos de apadrinhar médicos judeus x Médicos judeus são proibidos de tratar
não judeus (1938).
1050 cristãos são
proibidos de viver com um judeu debaixo do mesmo teto x Uma diretiva nazista de
1938 estabeleceu a concentração dos judeus em suas próprias casa.
Em 1215 o distintivo
judaico foi implementado x Em 1941 os judeus deveriam usar a Estrela de Davi
Amarela.
1222 a Igreja proibiu a
construção de novas sinagogas x Os nazistas ordenaram em 1938 a destruição de
todas as sinagogas em território alemão.
Essa
lista comparativa se estende, até chegar à autorização de agressões físicas e
extermínio, como os que ocorreram entre1938 a 1945 nos diversos Campos de
Concentração (trabalho forçado) espalhados pelo território alemão. Foram mais
de 6 milhões de judeus exterminados. O ódio nutrido por mulçumanos em relação
aos judeus nada mais é que uma radicalização do que os cristãos já praticavam.
Um
Judeu virá governar o mundo
Por
mais sangrenta que tenha sido nossa relação com Israel no decorrer dos séculos,
é necessário citar aqui os nomes de alguns que andaram na contramão de seu
tempo e amaram os judeus como o apóstolo Paulo nos ensinou: Charles Spurgeon,
A. W. Tozer, Leonard Ravenhill, David Baron, Nathanel West, J. C. Ryle,
Horatius Bonar, Jonathan Edwards, Isaac Newton, Thomas Brightman, Ishodad de
Merv (850 d.c) e muitos outros grupos como, Os morávios, entenderam que Deus
não havia desistido de seu povo. Muitos desses, profetizaram (observando as
escrituras) que Israel seria restaurado como nação em sua localidade original,
isso muitos anos antes de 1948[4].
Ante
a todas essas coisas, que possamos ser achados fiéis como Bonhoeffer[5],
que muitos anos antes do massacre aos judeus ser oficializado na Alemanha
nazista, se manteve fiel às escrituras. Dias virão em que o ódio contra os
judeus aumentará, o inimigo se levantará com total fúria[6]
contra esse povo, porque ele sabe que Israel tem um papel fundamental na segunda
vinda de Yeshua à terra.
Que
Deus nos conceda uma coração quebrantado e humilde, em arrependimento pelos
pecados de nossos pais. Que nossa atitude venha ser diferente, honrando nossas
raízes e amando os irmãos de Jesus.
[1]
Coloco entre aspas devido ao entendimento de que o Estado moderno não existia
antes dos séculos XVII e XVIII. A referência ao Estado, como ente político e
responsável pela produção de leis, concentrava-se na figura do Rei sob forte
influência da Igreja, por pelo menos 1.400 anos.
[2]
Existe uma diferença entre essas linhas teológicas. Os teólogos confessionais,
também conhecidos como ortodoxos, defendem a Bíblia como escritura sagrada
inspirada por Deus, toda ela. Já os teólogos liberais entendem que a Bíblia
contém a palavra de Deus, alguns partes foram inspiradas, outras devem ser
“atualizadas” conforme o contexto atual. Já falei um pouco a respeito dessa
linha aqui na postagem anterior desse blog.
[3]
A maior ironia dessa situação é que são esses escritos uma das maiores e mais
confiáveis fontes para entendermos o contexto histórico e cultural da Bíblia.
Como também, foi graças aos massoretas (copistas judeus da Idade Média) que
mantiveram a tradição dos escritos do Antigo Testamento, essas eram as cópias mais
antigas que toda a cristandade tinha até então, antes da descoberta dos
manuscritos do Mar Morto.
[4]
Ano em que o estado moderno de Israel foi criado, pela ONU.
[5]
Dietrich Bonhoeffer, teólogo e pastor luterano, membro da resistência alemã
anti-nazista e membro fundador da Igreja Confessante, ala da igreja evangélica
contrária à política nazista. Morreu enforcado em 1955, em um campo de
Concentração.
[6]
Esse é outro argumento pelo qual podemos rebater o superssessionismo. Os homens
entenderam que Israel foi substituído, mas não é o que os fatos mostram em
relação a Deus e ao diabo. Se Israel deixou de ser importante porque tanto ódio
e perseguição? Se Israel (e Jerusalém) tornou-se uma nação qualquer porque
tanta controvérsia e disputa?