Aleluia!
Louvem, ó servos do Senhor, louvem o nome do Senhor!
Seja
bendito o nome do Senhor, desde agora e para sempre!
Do
nascente ao poente, seja louvado o nome do Senhor!
O
Senhor está exaltado acima de todas as nações; e acima dos céus está a sua
glória.
(Salmos
113:1-4)
Após o dilúvio os povos
se distanciaram do Deus Criador e escolheram o caminho da independência, como
Adão e Eva no Éden. A adoração ao Criador, ao único e verdadeiro Deus, é transferida
para a criação. Quando Deus escolhe Israel como sua porção entre as nações da
terra Ele tem como objetivo que Seu povo fosse diferente dos demais. Os povos
que rodeavam Israel, durante todo seu processo de formação nacional, tinha essa
característica de culto a divindades inferiores. Seres que poderiam ser manipulados
e “controlados” por meio da magia.
Podemos ficar
assustados quando ouvimos a palavra magia, pois ainda a relacionamos à
bruxaria. E essa última temos alguns estereótipos adquiridos por definições e
conceitos oriundos da Idade Média, muitos deles equivocados. Todavia, magia
nada mais é do que manipulação por meio de palavras. Usar rituais repetidos e
palavras bem ordenadas para receber a benção da divindade. E entre essas
palavras importantes, o nome da divindade estava entre elas. O nome do ser
adorado era um meio de controle e limitação do mesmo.
Esse é o contexto que
Israel vivia quando Deus os tira do Egito e os constitui como nação. Esse é o
contexto quando Israel peregrina pelo deserto e se estabelece em Canaã. No
Sinai, quando Deus renova com seu povo a aliança estabelecida com Abraão, um
pedido de exclusividade é feito. Deus mostra para o mundo o caminho de volta
para adorar o Criador do universo. O Deus que não pode ser controlado ou
manipulado. Deus ensina a humanidade o caminho de volta à adoração, o propósito
para o qual fomos criados.
É interessante perceber
como Deus foi didático ao dar a seu povo Os dez Mandamentos. Dez, a quantidade
de dedos que temos nas palmas de nossas mãos. Percebemos também Deus usando o
visual (Deuteronômio 6:8-9) e a repetição como meio dos pais ensinarem a seus
filhos (Deuteronômio 6:7)[1],
ao mesmo tempo que esses mesmos pais se lembravam e temiam ao Senhor. Quando
lemos o conteúdo do decálogo podemos afirmar que este é uma expressão do
caráter do Eterno.
O
que significa tomar o nome do Senhor em vão?
Não terás outros
deuses diante de mim. Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança
do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da
terra. [...] Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão; porque o
Senhor não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão. Lembra-te do
dia do sábado, para o santificar. [...] Honra a teu pai e a tua mãe, para que
se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor teu Deus te dá. Não matarás.
Não adulterarás. Não furtarás. Não dirás falso testemunho contra o teu próximo.
Não cobiçarás [...].
(Êxodo 20:3-17)
Talvez a primeira vez que você tenha lido o texto de
Êxodo 20 você possa ter ficado um pouco confuso em relação ao número de
mandamentos, mas se você observar com cuidado vai visualizar 10. Perceba a
genialidade de Jesus em resumir lei em “apenas” dois mandamentos, os três
primeiros mandamentos estão relacionados a amar ao Senhor com todo coração,
mente e força, enquanto os outros sete estão relacionados à amar nosso próximo
como a nós mesmos. O sábado, o quarto mandamento, pode ser visualizado como uma
intercessão entre o amor à Deus e o amor ao próximo[2].
Voltemo-nos para a questão que direciona essa
postagem, o que significa usar o nome de Deus em vão? Seria tomar cuidado com
nossas expressões culturais como: “Aih meu Deus! / Nosso Deus!”[3].
Ou isso estaria relacionado com questões mais profundas do nosso coração, tanto
no passado como no presente? Veja o que Geerhardus Vos diz sobre isso:
A palavra é um dos
principais poderes na superstição pagã, e a mais potente forma de palavra
mágica é o nome mágico. Cria-se que mediante a pronúncia do nome de alguma
entidade sobrenatural, essa podia ser compelida a fazer de acordo com as ordens
de quem está fazendo uso da magia. O mandamento aplica a desaprovação divina de
tais práticas especificamente com o nome “Yahweh”. “Tomar” significa
pronunciar. “Em vão” literalmente lê-se “para vaidade”. Vaidade é um termo bem
complexo no qual as ideias do irreal, do enganoso, do decepcionante e do
pecaminoso se misturam.
O que Vos está dizendo
é basicamente como funciona a maior parte das religiões do mundo, tanto no
passado como no presente. E como esse estilo de se relacionar com o divino
influenciou, e ainda influencia, religiões monoteístas como o judaísmo e o
cristianismo. O fiel usava o nome da divindade para manipular e controlar essa
divindade afim de satisfazer suas próprias aspirações e desejos. A relação com
os deuses sempre foi de apaziguar a ira, afim de receber dos mesmos bênçãos e
prosperidade. Todas as religiões animistas ou com raízes greco-romanas possuem
similaridade nessa relação.
Essa era a configuração
religiosa dos povos vizinhos do antigo Israel, e o que Deus está mostrando no
Sinai é basicamente o seguinte: “Eu sou Deus, não sou como os outros ídolos
(deuses) que podem ser manipulados. Eu não vou fazer o que vocês querem, mas o
que eu quero, da minha maneira”. Essa é a diferença do Deus criador, Aquele que vive fora do tempo. Talvez ficamos
assustados quando falamos sobre bruxaria e magia, mas veja a explicação de
Geerhardus Vos:
Magia é a reversão
pagã do processo da religião, na qual o homem, em vez de se deixar ser usado
por Deus para o propósito divino, reduz seu deus ao nível de uma ferramenta, a
qual ele usa para o próprio propósito egoísta. Magia é cheia de superstição e,
de certo modo, cheia do que tem a aparência de sobrenatural, mas é vazia da
verdadeira religião. Em razão de que ela não tem o elemento da autocomunicação
divina objetiva vinda do alto, ela tem a necessidade de criar para si mesma
meios materiais de coerção que farão que a deidade cumpra sua ordem. Em função
da natureza do caso, esses instrumentos de coerção mágica se multiplicarão
indefinidamente.
Nessa perspectiva,
podemos analisar e nos arrepender do ensino de muitas igrejas a
respeito do “Nome de Jesus” e de orações que “ordenam / comandam” alguma coisa.
Precisamos pensar se não estamos transformando o Deus criador em nosso ídolo,
conforme nossa imagem e semelhança. Parece herético dizer isso, não é mesmo?
Todavia, muito dessas “teologias” presentes nas pregações de nossas igrejas
estão misturadas com esses conceitos de magia, paganismo e idolatria.
Do
judaísmo do Segundo Templo[4]
ao cristianismo atual
Um ponto importante a
respeito dessa hermenêutica (interpretação) do terceiro mandamento, que proíbe
a pronuncia do nome de Deus, tem raízes no judaísmo do Segundo Templo. A
religião judaica que temos no período de Jesus é fruto desse período
Pós-exílio. Israel passou por seu período de consolidação como nação, a partir
do monte Sinai, o período dos juízes e reis, e em todos esses períodos vamos
perceber um processo de queda e reconciliação com o Senhor. Deus propõe um
relacionamento completamente diferente do paganismo, mas Israel traz o
paganismo pra dentro de seus cultos, consequentemente o juízo de Deus vem sobre
o povo. Para trazer o povo de volta Deus sempre prepara um juiz, profeta ou
rei, afim de restaurar o culto e a adoração. Esse é um singelo resumo dos livros de Josué à
Reis.
Após o exílio temos um
desejo de fé purista e de culto exclusivo à Yahweh,
iniciado com Esdras, todavia, isso, mais tarde, se desemboca em uma
religiosidade vazia e sectária[5].
Foi dentro desse período que o não pronunciar o nome de Deus tornou-se sinônimo
de cumprimento ao terceiro mandamento. Todavia, o que Deus estava querendo
comunicar à seu povo desde o evento da sarça ardente era: “Eu sou o Eterno!
Vocês não podem me limitar nem me manipular! O meu nome é Eu sou o que sou e
sempre serei![6]”.
Deus não é, e nunca será nosso ídolo[7].
Conclusão
Portanto, usar o nome
de Deus em vão poderia ser definido como usar o nome de Deus em interesse
próprio. Falar que Deus está falando quando na verdade é você que está falando.
Deus chamou Israel e a igreja para se relacionarem com o Deus verdadeiro. O
Deus que não se encaixa em nenhuma categoria de classificação e descrição. A
história mostra que tanto Israel como a Igreja se perderam ao logo do caminho
em sincretismos e idolatria. Se desejamos servir ao Senhor da maneira que Ele
se revelou, precisamos nos voltar para às escrituras, entendendo que Cristo é
suficiente.
[1] E estas palavras, que hoje te ordeno,
estarão no teu coração; E as ensinarás a teus filhos e delas falarás assentado
em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te e levantando-te. Também as
atarás por sinal na tua mão, e te serão por frontais entre os teus olhos. E as
escreverás nos umbrais de tua casa, e nas tuas portas. (Deuteronômio 6:6-9)
[2]
Desenvolverei essa ideia em um outro texto.
[3]
Quando participamos de um ambiente Católico Romano usamos o nome de Maria, o
brasileiro entende muito bem esse costume.
[4]
Termo usado para a religião judaica que se configurou após o exílio babilônico
e se desenvolveu até os dias de Jesus.
[5] As
mais conhecidas no período de Jesus: Fariseus, Saduceus, Essênios e Zelotes.
[6]
Êxodo 3:14
[7]
Alexandre Miglioranza tem um livro com um título parecido: “Deus não é o seu
ídolo” - Editora Mundo Cristão. Recomendo.