“Nos essenciais unidade, nas opiniões liberdade, mas em todas as coisas o amor.”[1]
“Não somos os únicos cristãos, mas somos unicamente cristãos.”
(Lemas do Movimento de Restauração)
Em toda a história da
cristandade, seus erros e acertos, vemos a igreja do Senhor Jesus nascer,
crescer e se desenvolver ao longo dos séculos. Por mais que tenhamos tido
divisões e a formação de diferentes tradições cristãs, há essenciais que nos
unem. Essenciais que foram conservados por meio de documentos oriundos dos
concílios da Igreja, como também os escritos dos pais apostólicos, afim de
combater as diversas heresias que surgiam no meio do Corpo de Cristo.
De forma geral, o ponto
que une as diversas tradições cristãs é a pessoa de Jesus, sua soberania e
divindade. Acreditamos que Jesus é Deus, Deus que também é ser humano. Cremos
que ele veio e um dia voltará. Acreditamos na Trindade, que Deus é comunidade,
três pessoas diversas, que não estão subordinadas uma a outra, mas que são um
só Deus. Cremos também que o batismo e a ceia são elementos importantes em
nossos cultos e confissões de fé. Outro ponto que nos une é o entendimento de
que a Bíblia é a Palavra de Deus.
É a partir desses
essenciais que teremos uma diversidade de tradições cristãs – católicos,
luteranos, presbiterianos, batistas, congregacionais, independentes,
pentecostais, e os evangélicos, termo que engloba várias tradições. Tradições
essas que terão ênfases, produções teológicas e opiniões diversas.
O
Credo Apostólico
O
Credo Apostólico foi um dos resultados do primeiro Concílio em Niceia, convocado
em 325 pelo imperador Constantino. A convocação foi feita por causa de uma
doutrina que começou a ser disseminada por um dos diáconos de Alexandria, Ário[2].
Este, questionava a divindade de Jesus. Ário afirmava que Jesus não possuía a
mesma substância do Pai e do Espírito, logo se Jesus não era Deus, não existia
Trindade.
É
válido ressaltar que o arianismo não nasceu do nada e foi combatido de
imediato, os ensinos pré-nicenos (antes do Concílio) já continham pontas soltas
sobre a doutrina da Trindade, estas foram terra fértil para a heresia de Ário.
Não havia uma definição clara a respeito da Trindade, alguns presbíteros e
líderes da Igreja chegavam a afirmar que havia subordinação entre as pessoas da
Trindade, o Filho era subordinado ao Pai. Assim, no século III, aparece Ário
questionando a divindade de Jesus e leva muitos a se desviarem da verdade do
Evangelho.
O
Credo Niceno, portanto, é um excelente exemplo a respeito do que são nossos
essenciais. O primeiro Concílio oficial da Igreja (Após o Concílio de Jerusalém
– Atos 15) que contou com a maior parte de seus líderes e bispos da época,
decidiu e documentou a seguinte decisão a respeito do que cremos:
Creio em Deus Pai,
todo-poderoso, Criador do céu e da terra;
E em Jesus Cristo, um
só seu Filho (seu único Filho), Nosso Senhor,
Que foi concebido pelo
poder do Espírito Santo, nasceu de Maria Virgem;
Padeceu sob o poder de
Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado;
Desceu ao reino dos
mortos, ressuscitou ao terceiro dia;
Subiu ao Céu, está
sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso,
De onde há de vir a
julgar os vivos e os mortos.
Creio no Espírito
Santo,
Na Santa Igreja
Católica[3],
na comunhão dos Santos,
Na remissão dos pecados,
Na ressurreição da
carne,
Na vida eterna.
Amém.
Heresia
e Ortodoxia
A Heresia sempre esteve
presente na história da Igreja desde seu surgimento com os Apóstolos e
primeiros crentes. Paulo e João[4]
combateram em muitas de suas cartas os ensinos dos gnósticos e falsos mestres
que se levantaram desde o primeiro século. Portanto, podemos definir Ortodoxia
como o ensino e regras de fé que foram estabelecidos pelos Apóstolos e a
tradição da Igreja; e Heterodoxia (heresia) como ensinos que contrariam esses
ensinos.
Portanto, entendemos
como essenciais em nossa confissão de fé, doutrinas que reconhece a divindade e
pessoalidade de cada membro da Trindade, doutrinas que reconhecem a encarnação
de Cristo, sua morte, ressureição e sua eminente volta à Terra para julgá-la e
restaurá-la. Doutrinas que versam a respeito do perdão dos pecados,
ressurreição dos mortes e vida eterna. Todo ensino que contraria ou relativiza
qualquer desses fundamentos básicos devem ser considerados hereges.
Segundo nossos pais,
pioneiros no Movimento de Restauração, devemos chamar de irmãos e integra-los
em nossa mesa, todos aqueles que compartilham desses essenciais da fé cristã.
Todos aqueles que reconhecem que Jesus é completamente homem e completamente
Deus.
As
opiniões e o Amor
Os desdobramentos a
respeito das doutrinas basilares podem ser consideradas opiniões. Por exemplo,
a doutrina que trata a respeito da remissão de pecados, soberania divina e
liberdade humana; o campo da escatologia é um dos mais diversos e com opiniões
de diversos tipos, englobando até mesmo muitas teorias da conspiração. O lema
do movimento é liberdade nas opiniões e acima de tudo o amor.
O amor, como bem
explanou o apóstolo Paulo em I Coríntios 13, é o maior de todos os dons. O amor
é o testemunho público de que somos discípulos de Jesus[5]. É
o amor que faz com que eu considere meu irmão superior a mim[6], e
pense mais nos interesses dele do que nos meus[7]. É
o amor que nos mantém unidos apesar de nós e nossas opiniões. O amor a Jesus e
ao próximo me ensinam a abrir mão do meu ego (negar a mim mesmo) e a não descer
da cruz.
É o amor que nos ensina
a andar em humildade e quebrantamento, reconhecendo que a história da Igreja
não começou comigo, reconhecendo que há riqueza nas diversas tradições cristãs.
É o amor que me ensina esse caminho de unidade e perfeição, lembrando sempre
que a honra e a glória são de Deus!
Conclusão
Que Deus nos livre de
nós e de nosso ego. Que Deus nos dê coração ensinável e olhos para apreciar a
beleza da diversidade. Que Deus nos ensine que diversidade e unidade são parte
de Sua própria essência, Pai, Filho e Espírito Santo. A beleza da Trindade é
revelada na criação, no Corpo de Cristo, a Igreja.
[1] O
irmão J. H. Garrison escreveu que Rupertus Maldenius sussurrou esse provérbio
às gerações futuras por volta de 1627 ou 1628, durante a Guerra dos Trinta
Anos, e cinqüenta anos mais tarde Richard Baxter fez uma referência a ele.2
Esse conflito armado teve início em 1618 por causa de diferenças religiosas
entre católicos e protestantes e é uma conseqüência da Reforma Protestante.
Essa “guerra religiosa” promoveu grandes matanças, verdadeiros banhos de
sangue, e a paz só veio com o “Tratado de Westphalia” em 1648.
[2]
Ário nasceu entre 256-260 na Líbia, há pouco material sobre sua vida e escritos,
mas, tudo indica que a polémica em Alexandria se deu quando Ário já era idoso.
[3] O
termo “Católica” significa “uma só”. Portanto, como cristãos, somos católicos,
pois cremos na existência de apenas uma Igreja, a comunidade de santos de todas
as eras que creem no Cristo. Jesus voltará para uma noiva, uma só igreja.
[4]
Colossenses e I João.
[5]
João 13:35
[6]
Filipenses 2:3
[7]
Filipenses 2:4-5