Era o seu nome Barnabé, natural de Chipre. Também chamado de José das consolações. Homem bom e piedoso.
(Guilherme
Kerr)
Minha vida é obra de tapeçaria
É tecida de cores alegres e vivas
Que fazem contraste no meio das
cores
Nubladas e tristes
Se você olha do avesso
Nem imagina o desfecho
No fim das contas
Tudo se explica
Tudo se encaixa
Tudo coopera pro meu bem
(Stenio Marcius)
Na última reunião
presencial da nossa organização, aqui no Oeste da África, nosso palestrante
falava sobre a importância de aprender a desenvolver amizades; não amizades no
sentido de coleguismo, mas amizades profundas. O desafio que ele nos lançou
para os próximos meses foi: “Tenha melhores amigos! Escolha alguém e desenvolva
essa amizade”. Desde o dia em que nascemos estamos aprendendo a nos relacionar.
Para aqueles que ainda não entenderam que estão aprendendo a ser mães, pais,
esposos e esposas, filhos e amigos, a vida é mais difícil.
O ponto interessante
desse desafio é que atualmente estou em uma posição de recomeço, no que diz
respeito a amizades profundas. Todos os meus amigos e amigas que antes viviam
perto de mim, se mudaram. Meus colegas de trabalho foram remanejados para
outras funções, outros estão a caminho da aposentadoria. Muitas mudanças e surpresas
inesperadas.
Viver em terras
distantes nos ensina a desenvolver amizades, recebê-las como uma dádiva de
Deus, ou morrer na sequidão e isolamento. É válido manter amizades que você
cultivou, mesmo que hoje essas pessoas não morem no mesmo país (cidade) que
você, a tecnologia está ai para nos ajuda a encurtar as distâncias. Mas, ao
mesmo tempo, não é a mesma coisa do corpo presente, do abraço, das orações e
comunhão sem os ruídos e cortes advindos de uma má conexão de internet.
Poderia descrever minha
experiência pessoal, vivendo em terras distantes, através da palavra
“agraciada”. Deus me deu muitos bons amigos e amigas, por todos os lugares que
passei, em cada período específico de minha trajetória. Olhando para trás
consigo ver a mão do tapeceiro costurando minha história às histórias de outras
pessoas, tão especiais e caras para mim hoje. Cada uma dessas amizades foram
Barnabés, chegaram na hora certa, trazendo uma palavra de encorajamento ou
exortação, e hoje, fazem parte de mim.
Barnabé,
o encorajador
Barnabé é um dos santos
venerado tanto pela Igreja Católica (igreja ocidental) como pela Ortodoxa
(igreja oriental), seu dia no calendário litúrgico é 11 de Junho. Era natural
de Chipre, uma ilha paradisíaca próxima ao Líbano. Seus pais eram judeus
helênicos da tribo de Levi, sua tia (Maria) era mãe de João Marcos[1],
conhecido pela tradição como autor do segundo dos evangelhos[2] e
também por participar de algumas viagens missionárias de Paulo.
O nome de Barnabé é
citado em Atos dos Apóstolos, as informações que temos a seu respeito estão
contidas nos relatos de Lucas e na tradição das igrejas do Oriente. Barnabé foi
uma peça fundamental no ministério de Paulo e de muitos outros irmãos da Igreja
primitiva. Segundo a história, seu nome de nascimento era José, mas quando este
vendeu todos os seus bens e deu o dinheiro aos apóstolos em Jerusalém, recebeu
o nome de Barnabé, υἱός παρακλήσεως
(hyios paraklēseōs), que significa "filho da exortação/consolação"[3].
Vemos os atos do
Espírito Santo de Deus através da vida de Barnabé em diversas ocasiões narradas
por Lucas[4],
ao introduzir Saulo aos apóstolos[5],
ao contribuir e participar do crescimento da igreja em Antioquia, a primeira igreja
missionária[6],
ao ser enviado e tornar-se um dos companheiros de Paulo nas missões aos
gentios.
O primeiro envio formal
de missionários que vemos relatado nas escrituras, está em Atos 13, quando a
igreja de Antioquia impõe as mãos sobre Paulo e Barnabé e os envia às nações
mais distantes da terra (Ásia e Europa). Se você observar os capítulos
anteriores vai perceber que o “chamado missionário” de Paulo e Barnabé foram
anteriores a essa confirmação da igreja, mas esse é um assunto para um próximo
texto. O que gostaria de pontuar aqui é a importância de um Barnabé na vida dos
missionários, ou daqueles irmãos e irmãs que vivem temporariamente longe de sua
igreja local, de sua casa. Principalmente quando estamos vivendo em uma cultura
bem diferente da nossa.
Precisamos de irmãos e
irmãs que orem conosco e por nós, ao mesmo tempo que também precisamos ser
alimentados pelas palavras de consolo, exortação e encorajamento. É um renovo
precioso, vindo diretamente da comunhão com Cristo Jesus através do Espírito
Santo. Vivendo em terras distantes, consigo imaginar o que foi Barnabé na vida
de Paulo. Consigo imaginar o desejo de Paulo em estar com seus amigos e amigas
de fé e missão[7].
Consigo imaginar como será o dia do grande banquete, as Bodas do Cordeiro.
Conclusão
A trajetória de Barnabé
nos ensina tanto a desejar Barnabés perto de nós, como também ser Barnabé na
vida de outras pessoas. E essa é a vida natural da Igreja, o Corpo de Cristo,
espalhado por todos os lugares da terra. Deus tem nos convidado a sermos mais
parecidos com Ele, em unidade e diversidade. Ele é família e nos ensina a ser
família. Uma família composta de diversas línguas e culturas.
A vida de Barnabé nos
lembra do propósito para o qual fomos criados, viver em comunhão. Participar da
dança da Trindade e levar outros a também dançarem conosco. Fellowship[8]
é a respiração do Corpo de Cristo.
[1]
Colossenses 4:10
[2]
Considerando a ordem dos evangelhos por questão de data, sou da linha que
entende que Marcos foi o primeiro dos Evangelhos a ser escrito.
[3]
Atos 4:36
[4]
Autor do livro de Atos dos Apóstolos.
[5]
Atos 9
[6]
Atos 13
[7] É
possível ver a importância de pessoas como Priscila e Áquila, Febe, Andrônico,
Júnia, Apeles, Amplíato, Rufo e sua mãe, Timóteo, Tito e muitos outros irmãos e
irmãs que tornaram-se a família mais próxima do apóstolo Paulo.
[8]
Para saber mais, leia a primeira parte dessa sequência de textos. Link: https://mentes-renovadasmay.blogspot.com/2024/06/o-poder-da-comunhao-parte-i.html