quarta-feira, 17 de julho de 2024

O Poder da Comunhão (Parte II)

 

Era o seu nome Barnabé, natural de Chipre. Também chamado de José das consolações. Homem bom e piedoso.

(Guilherme Kerr)

 

Minha vida é obra de tapeçaria

É tecida de cores alegres e vivas

Que fazem contraste no meio das cores

Nubladas e tristes

Se você olha do avesso

Nem imagina o desfecho

No fim das contas

Tudo se explica

Tudo se encaixa

Tudo coopera pro meu bem

 

(Stenio Marcius)

 

Stained glass window of Saints Peter and Barnabas in the cathedral of Saint Corentin | photo by Thesupermat


Na última reunião presencial da nossa organização, aqui no Oeste da África, nosso palestrante falava sobre a importância de aprender a desenvolver amizades; não amizades no sentido de coleguismo, mas amizades profundas. O desafio que ele nos lançou para os próximos meses foi: “Tenha melhores amigos! Escolha alguém e desenvolva essa amizade”. Desde o dia em que nascemos estamos aprendendo a nos relacionar. Para aqueles que ainda não entenderam que estão aprendendo a ser mães, pais, esposos e esposas, filhos e amigos, a vida é mais difícil.

O ponto interessante desse desafio é que atualmente estou em uma posição de recomeço, no que diz respeito a amizades profundas. Todos os meus amigos e amigas que antes viviam perto de mim, se mudaram. Meus colegas de trabalho foram remanejados para outras funções, outros estão a caminho da aposentadoria. Muitas mudanças e surpresas inesperadas.

Viver em terras distantes nos ensina a desenvolver amizades, recebê-las como uma dádiva de Deus, ou morrer na sequidão e isolamento. É válido manter amizades que você cultivou, mesmo que hoje essas pessoas não morem no mesmo país (cidade) que você, a tecnologia está ai para nos ajuda a encurtar as distâncias. Mas, ao mesmo tempo, não é a mesma coisa do corpo presente, do abraço, das orações e comunhão sem os ruídos e cortes advindos de uma má conexão de internet.

Poderia descrever minha experiência pessoal, vivendo em terras distantes, através da palavra “agraciada”. Deus me deu muitos bons amigos e amigas, por todos os lugares que passei, em cada período específico de minha trajetória. Olhando para trás consigo ver a mão do tapeceiro costurando minha história às histórias de outras pessoas, tão especiais e caras para mim hoje. Cada uma dessas amizades foram Barnabés, chegaram na hora certa, trazendo uma palavra de encorajamento ou exortação, e hoje, fazem parte de mim.

 

Barnabé, o encorajador

Barnabé é um dos santos venerado tanto pela Igreja Católica (igreja ocidental) como pela Ortodoxa (igreja oriental), seu dia no calendário litúrgico é 11 de Junho. Era natural de Chipre, uma ilha paradisíaca próxima ao Líbano. Seus pais eram judeus helênicos da tribo de Levi, sua tia (Maria) era mãe de João Marcos[1], conhecido pela tradição como autor do segundo dos evangelhos[2] e também por participar de algumas viagens missionárias de Paulo.

O nome de Barnabé é citado em Atos dos Apóstolos, as informações que temos a seu respeito estão contidas nos relatos de Lucas e na tradição das igrejas do Oriente. Barnabé foi uma peça fundamental no ministério de Paulo e de muitos outros irmãos da Igreja primitiva. Segundo a história, seu nome de nascimento era José, mas quando este vendeu todos os seus bens e deu o dinheiro aos apóstolos em Jerusalém, recebeu o nome de Barnabé, υἱός παρακλήσεως (hyios paraklēseōs), que significa "filho da exortação/consolação"[3].

Vemos os atos do Espírito Santo de Deus através da vida de Barnabé em diversas ocasiões narradas por Lucas[4], ao introduzir Saulo aos apóstolos[5], ao contribuir e participar do crescimento da igreja em Antioquia, a primeira igreja missionária[6], ao ser enviado e tornar-se um dos companheiros de Paulo nas missões aos gentios.

O primeiro envio formal de missionários que vemos relatado nas escrituras, está em Atos 13, quando a igreja de Antioquia impõe as mãos sobre Paulo e Barnabé e os envia às nações mais distantes da terra (Ásia e Europa). Se você observar os capítulos anteriores vai perceber que o “chamado missionário” de Paulo e Barnabé foram anteriores a essa confirmação da igreja, mas esse é um assunto para um próximo texto. O que gostaria de pontuar aqui é a importância de um Barnabé na vida dos missionários, ou daqueles irmãos e irmãs que vivem temporariamente longe de sua igreja local, de sua casa. Principalmente quando estamos vivendo em uma cultura bem diferente da nossa.

Precisamos de irmãos e irmãs que orem conosco e por nós, ao mesmo tempo que também precisamos ser alimentados pelas palavras de consolo, exortação e encorajamento. É um renovo precioso, vindo diretamente da comunhão com Cristo Jesus através do Espírito Santo. Vivendo em terras distantes, consigo imaginar o que foi Barnabé na vida de Paulo. Consigo imaginar o desejo de Paulo em estar com seus amigos e amigas de fé e missão[7]. Consigo imaginar como será o dia do grande banquete, as Bodas do Cordeiro.

 

Conclusão

A trajetória de Barnabé nos ensina tanto a desejar Barnabés perto de nós, como também ser Barnabé na vida de outras pessoas. E essa é a vida natural da Igreja, o Corpo de Cristo, espalhado por todos os lugares da terra. Deus tem nos convidado a sermos mais parecidos com Ele, em unidade e diversidade. Ele é família e nos ensina a ser família. Uma família composta de diversas línguas e culturas.

A vida de Barnabé nos lembra do propósito para o qual fomos criados, viver em comunhão. Participar da dança da Trindade e levar outros a também dançarem conosco. Fellowship[8] é a respiração do Corpo de Cristo.

 

 



[1] Colossenses 4:10

[2] Considerando a ordem dos evangelhos por questão de data, sou da linha que entende que Marcos foi o primeiro dos Evangelhos a ser escrito.

[3] Atos 4:36

[4] Autor do livro de Atos dos Apóstolos.

[5] Atos 9

[6] Atos 13

[7] É possível ver a importância de pessoas como Priscila e Áquila, Febe, Andrônico, Júnia, Apeles, Amplíato, Rufo e sua mãe, Timóteo, Tito e muitos outros irmãos e irmãs que tornaram-se a família mais próxima do apóstolo Paulo.

[8] Para saber mais, leia a primeira parte dessa sequência de textos. Link: https://mentes-renovadasmay.blogspot.com/2024/06/o-poder-da-comunhao-parte-i.html