Toda a Escritura é inspirada por
Deus e útil para nos ensinar o que é verdadeiro e para nos fazer perceber o que
não está em ordem em nossa vida. Ela nos corrige quando erramos e nos ensina a
fazer o que é certo. Deus a usa para preparar e capacitar seu povo para toda
boa obra.
(2 Timóteo 3:16,17)
O
livro mais traduzido e difundido em toda a história da humanidade, desde os
dias da Reforma Protestante até os dias de hoje a história não mudou. Mesmo em
meio a períodos de humanismo e secularismo em nossas escolas filosóficas, a
Bíblia continua a fazer parte da língua e cultura de muitos povos. Para nós
evangélicos, é considerada nosso livro sagrado, a forma como Deus decidiu se
revelar aos seres humanos. Não é em vão que somos conhecidos como “o povo do
livro”. É exatamente o entendimento de que a Bíblia é a palavra de Deus (somente ela) que nos diferencia de muitas outras religiões.
A
Bíblia da reforma, a forma como ela chegou para a maioria dos evangélicos de
hoje, possui 66 livros, com diferentes tipos de gêneros literários. Narrativa,
poesia, música, provérbios / ditos populares de sabedoria, carta, profecia,
evangelho e apocalipse. Foi assim que Deus escolheu falar a língua dos homens[1], de
modo criativo, cultural e ao mesmo tempo universal.
O
Antigo Testamento é também o que chamamos de “Bíblia hebraica”, a compilação de
três partes dos livros sagrados do povo judeu: A Torá, Os Escritos e Os
Profetas. A língua que Deus escolheu para que parte de sua mensagem fosse revelada à nós foi o
hebraico, a língua do povo de Israel. É válido ressaltar que alguns escritos,
principalmente pós exílicos, foram feitos no aramaico. Já no Novo Testamento, os dias da encarnação de Jesus, Deus escolheu falar em grego, a língua comum após a helenização dos povos orientais, realizada por Alexandre o grande.
Uma colcha de retalhos?
Por
mais que os vários livros que compõem a Bíblia pareçam independentes e possuam
seu próprio contexto (histórico, literário e social[2]),
a mensagem que carregam é a mesma. Desde Gênesis é possível perceber que as
narrativas, as poesias, profecias e músicas apontavam para uma única pessoa,
Cristo, o Messias. É claro que essa interpretação só vai ficar mais clara por
meio do Novo Testamento e a encarnação de Jesus.
Dando graças ao Pai que nos fez idôneos para participar da herança dos santos na luz; O qual nos tirou da potestade das trevas, e nos transportou para o reino do Filho do seu amor; Em quem temos a redenção pelo seu sangue, a saber, a remissão dos pecados; O qual é imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; Porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades. Tudo foi criado por ele e para ele. E ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por ele. E ele é a cabeça do corpo, da igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência. Porque foi do agrado do Pai que toda a plenitude nele habitasse, E que, havendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra, como as que estão nos céus.
(Colossenses 1:12-20)
Portanto,
é um erro interpretarmos a Bíblia como uma colcha de retalhos, um compilado de
livros com histórias diferentes. A Bíblia teve como inspirador um mesmo
Espírito, por mais que seus escritores foram diversos, inseridos em contextos
diferentes, que lançaram mão de estilos literários diferentes, todos esperavam
pelo descendente da mulher que pisaria a cabeça da serpente (Gn 3:15). Todos esperavam
pelo parente próximo que os trariam de volta para a família de Deus. Todos
tinham expectativa de um reino restaurado e redimido, de justiça e paz.
Quando
estudamos hermenêutica, podemos entender um pouquinho dessa unidade textual das
escrituras por meio do Princípio da Revelação Progressiva. Deus vai revelando
sua mensagem, e as facetas de seu próprio caráter, conforme o passar das eras,
de modo contextualizado e gradativo, até que chegasse a plenitude dos tempos,
na chegada do Messias. E essa revelação (Bíblia), também conhecida como
revelação Especial, é completamente compreensível para todos os seres humanos
de todas as eras. O reverendo Ronaldo Lidório define o Evangelho (a mensagem
bíblica) da seguinte forma:
O
Evangelho é supracultural, pois define e explica a cultura, não o contrário;
cultural, por ter sido revelado à humanidade em seu próprio contexto e
história; intercultural, por juntar ao redor de Jesus pessoas de todos os
povos; multicultural, ao ser destinado a todos os povos e línguas;
transcultural, quando transmitido de uma cultura a outra; e contracultural,
pois sempre confronta o homem em sua própria cultura.
Isso
não é mesmo impressionante? Só podemos nomear esse feito como obra divina. É um
milagre realizado pelo Espírito de Deus. Assim como todas as vezes que essas
mesmas palavras são traduzidas[3]
para os mais diversos idiomas do mundo, é um grande milagre da parte de Deus.
Ele está completamente envolvido nisso, em se revelar e se fazer conhecido para
todas as etnias da terra.
O protagonista na narrativa bíblica
Outro
erro que cometemos ao lermos as narrativas a respeito de Abraão, Moisés, Josué,
Débora, Rute e Davi é sempre colocarmos esses homens e mulheres como os
personagens principais da história. Prova disso são as aplicações, em nossos
sermões, focados em “sermos” ou “não sermos” como esses personagens. Quando
lemos a Bíblia sob a perspectiva de que estamos lendo uma única história, e de
que o foco está na pessoa de Deus e não em seres humanos, vamos perceber com
maior profundidade a mensagem bíblica.
Cada
história relatada mostra as fraquezas, incredulidades e pecados da humanidade
caída. Em contrapartida, temos um Deus misericordioso, presente, suficiente e
incrivelmente longânimo. O verdadeiro Herói da narrativa bíblica, perfeito em
caráter e totalmente desejável em beleza e glória. O relato bíblico só confirma
o que experimentamos em nosso dia a dia, mesmo em meio às nossas incapacidades
e limitações, Ele é soberano! Ele está em missão, trabalhando através da
imaturidade de seus filhos, fazendo com que o mal se converta em bem, para que
Sua vontade se cumpra e nenhum de seus planos sejam frustrados.
Quando
aprendemos a perceber Deus como protagonista na narrativa bíblica também
conseguimos visualizar a pessoa de Jesus no centro, cada personagem coadjuvante
apontando para o Messias, como uma sombra da perfeição de caráter que estava
por vir. A palavra de Deus que se fez carne e habitou entre nós cheio de graça
e verdade, é também aquele que estava presente em cada período da história da
humanidade.
Conclusão
Em
Adão estava a expectativa do povo de Deus, dos filhos semelhantes ao Criador.
Em Adão estava a expectativa da Igreja, a companheira que estaria em perfeita
parceria com seu Senhor. Essa expectativa, com a queda, foi transferida e
concretizada em Jesus, o segundo Adão. Fomos, pela graça, colocados em Jesus e
por meio dele cumprimos o propósito para o qual fomos criados, glorificar o
Criador.
Ao fazermos a leitura da Bíblia, considerando essas perspectivas, teremos ainda mais certeza de que não houve plano B no projeto de Deus. Pedro diz que o cordeiro foi imolado antes da fundação do mundo, ou seja a queda não pegou nosso Deus de surpresa! Jesus se ofereceu como sacrifício perfeito antes de tudo ser criado e toda a história ser contada. Tudo isso apenas confirma a soberania e presciência, facetas do caráter da Trindade. Beleza e perfeição!
[1] Se
você deseja estudar mais sobre o assunto leia o livro do reverendo Paulo Won: E
Deus falou na língua dos homens.
[2] Se
você deseja estudar mais sobre o assunto leia o livro: Os outros da Bíblia
(André Daniel Reinke).
[3]
Segundo dados de 2020 da Sociedade Bíblica do Brasil, das mais de 7.300 línguas
faladas no mundo hoje, somente 700 dessas línguas possuem a Bíblica completa.
Temos 1.549 Novos Testamentos, 1.162 línguas com porções das Escrituras e 3.948
não possuem nada.
Não houve plano B no projeto de DEUS. *Beleza e Perfeição.*
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