terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Martírio, Missões e o Fim dos Tempos

 

Que o Cordeiro receba a recompensa do

 seu sofrimento, através de mim.

(Hino Moraviano)







Falamos e ouvimos tão pouco sobre martírio, perseguição por causa do nome de Jesus e sofrimento por causa do testemunho nos sermões de nossas igrejas, que acabamos nos esquecendo do quão real e necessário é essa parte do evangelho pregado por Jesus. Talvez, nosso contato com essa temática se dê através de movimentos como a Missão “Portas Abertas”, que dá suporte à parte da Igreja – em sua maioria oriental – que cresce em meio ao martírio e perseguição; à Missão “MAIS” que também trabalha nesse contexto, mas principalmente com irmãos (e não irmãos) refugiados. 

Todavia, o martírio e o sofrimento é parte integral do evangelho. Quando Jesus fala: “Segue-me!” Vem acompanhado o: “Felizes são vocês quando, por minha causa, sofrerem zombaria e perseguição...”, “Tome a sua cruz...”, “No mundo vocês terão aflição...”, “...se o grão de trigo não for plantado na terra e não morrer, ficará só.”, “...São capazes de beber do cálice que estou prestes a beber?”. 

Como afirmou Paulo em I Coríntios 11:26, todas as vezes que bebemos da ceia do Senhor, estamos anunciando a morte do nosso Senhor até que Ele venha! Ou seja, estamos nos comprometendo a sermos participantes dos sofrimentos de Cristo que ainda restam. Jesus nos convida, como Igreja, a entrar em parceria com Ele, tanto em Sua Glória como em Seus sofrimentos. 



Somos conduzidos em Triunfo

Mas graças a Deus, que, em Cristo, sempre nos conduz triunfantemente. Agora, por nosso intermédio, ele espalha o conhecimento de Cristo por toda parte, como um doce perfume. Somos o aroma de Cristo que se eleva até Deus. Mas esse aroma é percebido de forma diferente por aqueles que estão sendo salvos e por aqueles que estão perecendo. Para os que estão perecendo, somos cheiro terrível de morte e condenação. Mas, para os que estão sendo salvos, somos perfume que dá vida. E quem está à altura de uma tarefa como essa? 
(2 Coríntios 2:14-16) 


Na época do Império Romano, o general e seus exércitos desfilavam com o exército vencido na rua principal de Roma, para mostrar o poder e glória de Roma e do Imperador, diante de todos. O apóstolo Paulo usa essa mesma ilustração para se referir a nós em relação a Cristo. A expressão “ser conduzido triunfantemente”, significa que fomos conquistados por Cristo e estamos debaixo de Seu senhorio e governo. Em Gálatas, o apóstolo, mostra essa relação de submissão e entrega ao afirmar: “...agora vivo não mais eu. Cristo vive em mim..”, ou seja a vontade que prevalece é sempre a de Cristo, daquele que nos comissionou, daquele que nos venceu e triunfou sobre nós. 

Quando Paulo afirma que somos o aroma de Cristo, em outras traduções “o bom perfume de Cristo”, ele está fazendo menção à perseguição e ao martírio da Igreja. O preço para que o evangelho chegue a cada parte do mundo – o perfume seja espalhado – é o sangue dos santos sendo derramado. O conhecimento de Cristo é espalhado quando a Igreja entra em parceria no martírio. 

Como afirma Dalton Thomas: Embora nem todo crente seja chamado par dar testemunho como mártir, cada crente é chamado para adotar uma mentalidade de mártir, cada igreja, um mandato para o martírio e cada ministro, uma teologia de martírio. Podemos não derramar nosso sangue para que o evangelho se espalhe e seja frutífero na localidade geográfica em que estamos, mas somos chamados a compartilhar dessa mentalidade de amor pelo Senhor Jesus, entregando nossas vidas a Ele sem reservas, como fez Maria de Betânia[1]

Sabemos que ninguém inicia sua jornada com o Senhor já fervoroso e maduro em amor. Como a sulamita de Salomão, estamos nesse processo de desenvolver nosso amor por Jesus. O apóstolo João nos ensina sobre esse processo na primeira carta dele às igrejas da Ásia: É nisso que consiste o amor: não em que tenhamos amado a Deus, mas em que ele NOS AMOU e enviou seu Filho como sacrifício para o perdão dos nossos pecados. O fundamento do amor é ser amado. Quando aceitamos o amor de Deus, respondemos em amor e entramos em parceria com Ele. Essa é a história de Cantares, a jornada de maturidade da noiva. Deus está nos fundamentando em amor para que possamos responder em amor. 

Esse é o fundamento da mentalidade de martírio, o amor por Jesus. Quando amamos Jesus, amamos também sua noiva e aqueles que ainda não foram alcançados por esse amor. E nessa perspectiva, estamos dispostos a entregar nossas vidas voluntariamente para a tarefa seja cumprida, e Jesus seja conhecido e mais amado. Somos, assim, o bom perfume de Cristo, a oferta de libação sendo derramada no altar do Senhor[2]


O martírio e as missões pioneiras

Hoje no mundo temos mais de 2.000 povos que não têm nenhuma porção das escrituras, e aproximadamente 6.000 grupos étnicos que tem pouco ou nenhum engajamento com as escrituras, muitos deles se quer ouviram sobre Jesus. Muitos missiólogos acreditam que é possível alcançá-los, e concluir a tarefa, ainda em nossa geração, se muito na geração de nossos filhos. 

As missões pioneiras e o amor pela volta de Jesus são lados de uma mesma moeda. Se amamos Jesus e ansiamos por seu retorno, estaremos comprometidos com os povos não alcançados e com o uso das escrituras. É válido ressaltar, ainda, que: 

Tanto as missões pioneiras como o evangelismo local são chamados legítimos e indispensáveis para o avanço dos propósitos de Deus nas nações. Por isso, é importante não priorizarmos um em detrimento do outro. [...] Devemos ter o cuidado de nunca considerar um mais importante do que o outro. No entanto, dito isso, é evidente que a Igreja precisa realizar missões pioneiras de forma consideravelmente mais ampla do que vem sendo realizado atualmente. Em nossos dias, as missões pioneiras simplesmente não são uma prioridade para a maioria das igrejas ocidentais, e isso é trágico. Investimos menos de 1% dos nossos recursos em ministérios para povos não alcançados. 

O envio de missionários hoje tem sido, em sua maioria, para locais que já tem igreja e uma expressividade significativa do evangelho. Não estou dizendo que não é importante as igrejas investirem em obreiros que apoiem trabalhos já existentes em campos transculturais, mas é necessário um investimento maior em obras pioneiras. A tarefa será cumprida alcançando os não alcançados! 

É justamente aqui que o espírito do martírio deve alcançar o coração da noiva de Jesus. A tarefa envolve um coração apaixonado por missões pioneiras e o retorno do Rei. 



O martírio e o fim dos tempos 

Sabemos que a história da Igreja é marcada pela perseguição, martírio e sofrimento. Como afirmaram os historiadores: “O sangue dos mártires foi a semente da Igreja”; porque temos a doce ilusão que Deus agirá de modo diferente nos dias que precederão sua vinda? A resposta é simples e verdadeira: medo, advindo de um espírito de autopreservação que tomou a Igreja do nosso tempo (ocidentalmente falando). 

Na edição de 2002 da Tabela Anual de Estatística sobre Missão Global, David Barret, houve aproximadamente 164 mil cristãos [morreram] como mártires [naquele ano] e que o número médio de mártires cristãos cresceria a cada ano até chegar a 210 mil no ano de 2025. De acordo com a pesquisa de Barrett, houve aproximadamente 45 milhões de mártires no século 20. Isso significa que o século passado viu mais mártires do que os outros séculos anteriores juntos[3]

Segundo Dalton Thomas o martírio é um ato contínuo na história da expansão do evangelho, e devemos entendê-lo como uma realidade profética para a qual devemos estar preparados. O chamado ao martírio é o padrão para TODO crente, independente da época ou local em que vive. É o chamado para conhecer Cristo, segui-lo e testemunhar a respeito Dele às nações. Hudson Taylor[4] afirma:

É no caminho da obediência e do serviço realizado de forma sacrificial que Deus se revela mais intimamente a seus filhos. Quanto mais custoso, maior é a alegria. O momento mais tenebroso se torna o mais reluzente, e a maior perda, o maior ganho. Enquanto a tristeza dura pouco tempo e longo passará, a alegria é muito mais elevada...é eterna. 

Esse foi o caminho trilhado por Jesus (Filipenses 2), e é o caminho que Ele tem convidado Sua noiva a trilhar. Quando a igreja compartilha dessa mentalidade, ela não está abraçando apenas sua morte, mas está aceitando como parte de sua vida aqueles que vieram antes de nós e deram suas vidas pela causa de Cristo. E como afirma Hudson Taylor, a alegria em participar das aflições de Cristo é real, mais elevada, posto que, terá repercussão na eternidade. 

Que como noiva, esposa do Messias, a Igreja possa alcançar a maturidade e voltar a cantar o hino moraviano, encarnando o Cristo que tanto prega: “Que o Cordeiro receba, a recompensa do seu sofrimento, através de mim!”. Que a mentalidade do martírio venha tomar nossos corações. 




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[1] Fiz uma citação referente a Maria na postagem: https://mentes-renovadasmay.blogspot.com/2020/09/maranatha-o-caminho-mais-curto.html


[2] Essa expressão “aroma” e “cheiro suave” eram usados para se referir às ofertas queimadas no altar do Senhor, tanto em Gênesis (Noé) quanto em Levíticos.


[3] Extraído do livro: Até a morte – Martírio, missões e a maturidade da Igreja (Dalton Thomas)


[4] Pai das Missões para o interior da China.

sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Reforma Protestante

                                                                                                                      

Estão tentando nos fazer pensar 
Que por nossas boas obras chegaremos ao céu 
Estão enlouquecendo ao ponto de falar 
Que Deus precisa de rasas indulgências 
Estão tentando nos convencer 
Que por nossa força braçal abriremos os portões 
Estão perdidos e cegos ao dizer 
Que tudo que Deus tem pra você é condição 

(Tese 95 – João Manô)



Quando falamos sobre reforma é importante termos em mente o propósito de Deus para toda sua criação, expresso desde Gênesis, ter todas as coisas convergidas para o louvor de sua glória. Desde a queda do homem, Deus tem trabalhado para restaurar todas as coisas, por meio de seu povo[1].

Em toda a narrativa bíblica percebemos o desejo de Deus por relacionamento, e vemos uma sequencia de caminhar tortuoso, quedas, reformas e reconciliações. A narrativa do Antigo Testamento, quase que 70% dela, mostra o afastamento do povo de Deus do propósito para o qual foram estabelecidos e os muitos homens e mulheres, com suas vozes proféticas, que o Senhor levantou para trazer reforma no meio de Seu povo.

E nessas idas e vindas do povo de Israel percebemos que o coração de Deus não mudou, Ele permanece esperando a resposta de seu povo por relacionamento e profundidade. Também não é diferente quando olhamos para a história da Igreja, ao observarmos seus avanços e regressos dentro do propósito de Deus. Vemos o florescer em Atos, a unidade, a comunhão e o crescimento orgânico alinhado com a perseguição, o martírio e amor ao Senhor e aos povos não alcançados.

Atualmente, estamos sendo inundados por uma onda de mensagens positivas e uma estranha falta de lágrimas nos olhos; os cultos de sábado a noite (juventude) em sua maioria parecem mais entretenimento e um culto a si; estamos na era “coaching” e muitos de nossos irmãos tem chegado ao estremo que Bonhoeffer[2] chamaria de “graça barata”. Estaríamos nós, precisando de uma reforma?

 

Relembrando um pouco de 1500

Dia 31 de Outubro do corrente ano comemoramos 317 anos de Reforma Protestante. Essa data é contada a partir da atitude do monge agostiniano, Martinho Lutero, que fixou na porta da igreja do Castelo de Wittenberg, no ano de 1517, suas famosas 95 teses que versavam contra a venda de indulgências, estabelecida pelo Papa Leão X. É de saber comum, entre os estudantes da história da Igreja, que essa primeira reforma teve precursores como John Wycliffe[3], Huss[4], Savanarola e entre outros nomes conhecidos, que contribuíram para o retorno às escrituras e os fundamentos de uma salvação única e exclusivamente pela fé em Cristo Jesus.

É válido recordar também, outros nomes importantes que contribuíram na mesma geração de Lutero, como Cataria Zell[5], Elisabeth de Calenberg, Wursula Weyda, Calvino[6], Zwinglio[7], Marguerite de Navarre[8] e muitos outros nomes que ajudaram a trazer a bíblia de volta para a mão do povo – tendo em vista que esse foi o principal foco da reforma de 1500.

Não estou fechando os olhos para os pés de barro[9], que cada um desses homens e mulheres tiveram, mas é válido considerarmos que foram relevantes nesse período e, mesmo não sendo os definidores das famosas “cinco solas” da reforma protestante, foram seus idealizadores.

As cinco solas é a sintetização do credo cristão, pós reforma protestante, elas foram estabelecidas e difundidas tempos depois de 1500 por teólogos reformados. A Igreja Católica crê em todas elas, com exceção da palavra “sola” que no português significa “somente”. 1) Sola Gratia – Somente a graça, favor imerecido, é o meio pelo qual podemos ser salvos. É presente de Deus e em nenhum momento, mérito humano; 2) Sola Escriptura – Somente a escritura é a fonte de inspiração dada por Deus, ela é a autoridade máxima para o cristão; 3) Solus Christus – Somente Cristo é o único mediador entre Deus e a humanidade; 4) Soli Deo Glória – Toda a glória é devida e tributada ao Senhor, pois somente Ele pode salvar e alcançar o coração perdido; 5) Sola Fide – É o entendimento que a justificação é somente pela fé em Cristo Jesus que pode trazer salvação ao homem.

A bíblia foi devolvida para mão do povo, agora todos poderiam ler e se relacionar com Deus. As definições da salvação foram ajustadas, agora a Igreja começou a florescer, todavia mais reformas foram necessárias para que os frutos aparecessem. Mais reformas eram necessárias, a Igreja ainda carecia de ferramentas que lhes foram tiradas.

 

John Wesley, os Morávios e a Rua Azuza

O século XVII foi um momento conflituoso entre irmãos. Luteranos perseguindo anabatistas, católicos perseguindo protestantes, e no campo teológico a bíblia transformou-se em arsenal para uma guerra doutrinária. O evangelho não era mais o poder de Deus para a salvação. Foi dentro deste contexto que surgiu o movimento petista entre muitos irmãos, os mais conhecidos são Wesleyano e Moraviano.

Os morávios foram refugiados recebidos pelo conde Nicolau Von Zinzendorf em sua fazenda na Bavária, durante uma época de perseguição. Eram irmãos de diferentes movimentos protestantes, com seus conflitos e diferenças internas, que precisaram viver em comunidade. Foi através de uma vida de devoção ao Senhor e constante oração coletiva que o Espírito de Deus soprou algo novo dentro dessa comunidade e abençoou povos de diferentes culturas. Esses irmãos sustentaram uma rotina de oração coletiva por 100 anos, e foram os primeiros a enviarem missionários para locais distantes da Europa. Muitos de seus missionários se venderam como escravos para ganhar escravos para Jesus. Foi através deles que conhecemos a seguinte frase: Que o Cordeiro receba a recompensa do seu sofrimento, através de mim.

Dentro ainda, desse contexto de conflitos entre movimentos institucionais, surge, no século XVIII, John Wesley e o metodismo. Na região da Inglaterra e a Igreja Anglicana (oficial do Estado), a família Wesley foi instrumento de Deus para trazer de volta o fogo interior de busca e devoção pelo Espírito Santo, por meio das disciplinas espirituais. Pessoas que não eram recebidas nos prédios das igrejas, agora ouviam o evangelho por meio da pregação itinerante. Essa foi uma das principais marcas do ministério de Jhon Wesley. É válido ressaltar que o ministério e conversão de John Wesley teve forte influência do movimento moraviano.

Percebemos aqui Deus trabalhando e restaurando sua Igreja, devolvendo a ela as ferramentas necessárias para o fim dos tempos. Em 1500 vimos a devolução da bíblia e o ministério de Mestre sendo restaurado. Entre 1600 a 1700 a oração e o ministério do Evangelista, voltam ao seu lugar. E o mover de Deus continua se espalhando, da Europa para a América – consequência, também, da contra Reforma. As missões modernas se intensificam, e surgem os avivalistas no início do século XIX, como também o Movimento de Restauração com os irmãos Campbell, Stone e Walter Scott. A ênfase desse movimento era unidade do corpo de Cristo e o retorno aos princípios da Igreja primitiva, seu lema era: Não somos os únicos cristãos, mas simplesmente cristãos. / Nos essenciais unidade, nas opiniões liberdade, mas em todas as coisas o amor.

Em 1905, surgem nos Estados Unidos reuniões pentecostais e um dos atingidos por esse ministério é Willian Seymour, um pregador negro, que impactou sua geração através da Missão da Rua Azuza. A mensagem de Seymour era que o batismo do Espírito Santo não era apenas para santificação, mas para evidencia – o falar em outras línguas, o profetizar e os demais dons citados em Atos e Coríntios. O movimento pentecostal se espalhou por diversas regiões da América Latina, África, Ásia e Oceania.

É válido ressaltar que a ênfase não era simplesmente os dons, mas a santidade e a oração. No livro “A Igreja do século XX”, lançado pela editora Impacto, mostra claramente que todo movimento de oração e restauração desemboca em missões e amor pelos povos não alcançados.

 

Em nossos dias

Antes desse breve resumo da história da Igreja, lancei a pergunta: será que estamos precisando de uma reforma? E minha resposta é a seguinte, olhemos para o que Deus fez na geração dos nossos antepassados. Cavemos os poços que foram cavados por aqueles que vieram antes de nós[10]. Temos bons exemplos em nossa geração de irmãos que tem feito isso, e mesmo em meio à superficialidade e à graça barata, temos visto o movimento de oração sendo restaurando, o ministério profético sendo reestabelecido e entendido de forma mais clara, à luz das escrituras.

Quando estudamos a história da Igreja vemos o Espírito de Deus restaurando e trazendo de volta o que foi perdido. Falamos muito sobre retornar à Igreja de Atos, e esse é de fato o desejo de Deus, mas precisamos lembrar que a leveza, o agir do Espírito e as conversões são acompanhadas de martírio e perseguição. A Igreja do fim dos tempos é uma Igreja que estará preparada para o martírio e a perseguição. Não foi atoa que Jesus afirmou, citando os profetas:

 

Não está escrito: A minha casa será chamada, por todas as nações, casa de oração?

(Marcos 11:17)

Também os levarei ao meu santo monte, e os alegrarei na minha casa de oração; os seus holocaustos e os seus sacrifícios serão aceitos no meu altar; porque a minha casa será chamada casa de oração para todos os povos.

(Isaías 56:7)

 

Deus está ensinando sua noiva a orar. A oração nos prepara para o martírio, para os povos que ainda não o conhecem[11]. A oração nos ensina a clamar: Maranata! O livro de Apocalipse é um manual de oração para o fim dos tempos. A grande tribulação será um tempo em que a Igreja irá orar como nunca orou antes.



[1] Israel e a Igreja.

[2] Dietrich Bonhoeffer, teólogo e pastor luterano, membro da resistência anti-nazista na Alemanha hitleriana.

[3] O primeiro a traduzir a bíblia para o Inglês. Foi chamado de a estrela D’alva da reforma.

[4] Johm Huss, monge e professor universitário alemão. Morreu dizendo: “Hoje vocês estão matando o ganso, mas daqui 100 anos virá o cisne, o qual vocês não conseguirão matar!”. Seu nome: “Huss” significa ganso; sua fala fazia referencia a Martinho Lutero, o cisne.

[5] As mulheres na Reforma Protestante: https://www.luteranos.com.br/textos/500-anos-de-reforma-protestante-e-as-mulheres#:~:text=Sabemos%20de%20mulheres%20da%20nobreza%20que%20se%20empenharam,entre%201491%20e%201495%20e%20faleceu%20ap%C3%B3s%201543%29.

[6] Principal nome da reforma protestante na região de Genebra. Seu fundamento teológico e prática pública tiveram grande repercussão em muitas gerações, e até os dias de hoje inspira a prática cristã na esfera pública.

[7] Principal líder da reforma na Suíça.

[8] Vozes femininas na Reforma – Rute Salvino.

[9] Expressão usada como referência aos defeitos da pessoa.

[10] E tornou Isaque e cavou os poços de água que cavaram nos dias de Abraão seu pai, e que os filisteus entulharam depois da morte de Abraão, e chamou-os pelos nomes que os chamara seu pai. (Gênesis 26:18)

[11] Segundo os missiólogos a última fronteira hoje, dos não alcançados, é o mundo mulçumano.

sábado, 19 de setembro de 2020

Maranatha - O caminho mais curto


With fire in His eyes and hair like wool 
And a voice like a torrent of waters so full 
Out of his mouth comes a double-edged sword 
He’s coming in glory 
He’s coming to make war 

(Maranatha - Dalton Thomas)


E aconteceu que, quando Faraó deixou ir o povo, Deus não os levou pelo caminho da terra dos filisteus, que estava mais perto; porque Deus disse: Para que porventura o povo não se arrependa, vendo a guerra, e volte ao Egito.

Mas Deus fez o povo rodear pelo caminho do deserto do Mar Vermelho; e armados, os filhos de Israel subiram da terra do Egito. E Moisés levou consigo os ossos de José, porquanto havia este solenemente ajuramentado os filhos de Israel, dizendo: Certamente Deus vos visitará; fazei, pois, subir daqui os meus ossos convosco.

Assim partiram de Sucote, e acamparam-se em Etã, à entrada do deserto. E o Senhor ia adiante deles, de dia numa coluna de nuvem para os guiar pelo caminho, e de noite numa coluna de fogo para os iluminar, para que caminhassem de dia e de noite. Nunca tirou de diante do povo a coluna de nuvem, de dia, nem a coluna de fogo, de noite.

(Êxodo 13:17-22)


Introdução: Essa palavra foi compartilhada em uma mentoria escatológica que participei pela abase.org, por Dalton Thomas. Missionário norte americano que lidera a FAI (Frontier Alliance International), agencia missionária que trabalha diretamente com o povo palestino (mulçumanos / árabes e israelenses) nas regiões de conflito no Oriente Médio. 


É muito importante olharmos para o passado antes que falarmos do futuro, há sempre padrões e ciclos. Todos nós conhecemos a história do êxodo, todavia o capítulo 13 nos mostra o porquê que eles tiveram que pegar o caminho mais longo, e não o desvio pela terra dos filisteus. Quando olhamos o mapa, percebemos que o caminho é bem curtinho para a terra de Canaã, passando pela faixa de Gaza. O povo não estava preparado para conquistar sua herança. Olhando para os elementos principais do texto: havia uma aliança, um inimigo que nos quer destruir, um caminho curto e um caminho longo que evita o conflito. Os livros de Números e Deuteronômio são frutos do caminho longo, do despreparo para a guerra.

Eu acredito que a mensagem Maranata é o caminho curto! Naquela época Deus corria o risco de acabar com uma geração inteira, pela falta de preparo deles para a guerra. A Igreja do ocidente pegou o caminho longo; e eu acredito que Deus está levando um grupo de pessoas que irá pegar o caminho curto, para que essas pessoas liderem por esse caminho. E o segredo é não desanimar quando estiver diante da batalha. Eu acredito que Deus está segurando o prumo na Igreja mundial e alinhando o que está torto, e Ele está fazendo isso por meio da mensagem Maranata[2]. Acredito, ainda, que esse prumo serve para nos ajudar a ir por esse caminho curto.

Veja bem, a travessia do Mar Vermelho é algo que Deus fez, mas que Deus não queria fazer; posto que, o desejo de Deus era que eles tivessem cruzado pelo caminho curto, evitando o deserto. Da mesma forma na volta de Jesus, muitos vão escolher o caminho longo, e vão perder o que Deus estará fazendo no caminho curto. O ponto central aqui é estar preparado, para não se arrepender da escolha.

Hoje podemos perguntar ao Senhor: pessoalmente como homem e coletivamente como corpo (igreja), qual é nosso caminho mais curto? Acredito que existem coisas que entregamos nossa vida a elas que nos deixam despreparados para a guerra. Por meio de todas essas escolhas seremos pessoas do caminho curto ou do caminho longo; isso dirá se seremos um povo preparado ou se seremos um povo imaturo que Deus optará por nos poupar do conflito, como fez com os israelitas após a saída do Egito. 

Nossa Bíblia teria sido um pouco mais curta, se o povo estivesse preparado. Nem todo deserto Deus gostaria que passássemos por ele. O deserto é algo precioso, entretanto, muitos desertos vêm por nossa imaturidade. A jornada pelo deserto não era o plano de Deus. Se Deus estava pronto para abrir o Mar Vermelho para proteger um povo imaturo o que Deus seria capaz de fazer para um povo maduro?

Então você (Dalton) quer dizer que esse milagre foi desnecessário? O milagre do Mar Vermelho foi um mal necessário, mas o desejo do coração de Deus era que seu povo estivesse preparado para lutar e conquistar a terra. Eu creio que esse é o chamado de Deus para vocês (brasileiros) ser o povo do caminho curto!

Nós celebramos o caminho do Êxodo, mas, na verdade Deus nem queria que tivesse sido daquela forma. O que Deus está dizendo a meu respeito hoje? Esse é um homem (mulher) que desistiria? Ou é aquele que está preparado para a guerra? Eu fico pensando em quantos milagres Deus faz por nós, simplesmente por misericórdia, mas estes não são um endosso do que estamos fazendo ou escolhendo.

O caminho mais curto é o caminho do primeiro mandamento, o caminho longo é o caminho dos outros deuses. O caminho curto é o caminho de encarar o diabo de frente, o caminho longo é Deus te protegendo do diabo. Não me entenda mal, muita coisa boa aconteceu no deserto, mas muita coisa boa poderia ter acontecido na terra de Israel, e muitas coisas teriam acontecido, como por exemplo: Moisés poderia ter entrado na terra prometida. E como poderia ter sido diferente se Moisés tivesse entrado em Canaã.

 Pense em todo o ciclo de pecado que foi colocado por conta do caminho longo; pense como a história da redenção teria sido diferente. Essa leitura do livro de Êxodo poderia ter sido diferente. Palavra profética para o Brasil: vá pelo caminho curto e seja exemplo para outras nações. Isso significa sacrifício e rendição completa! Nós queremos maturidade, queremos fazer do jeito de Jesus, queremos ser as pessoas do livro de apocalipse. Um povo preparado para a guerra e para a pressão. O caminho curto, sangrento! Sangrento não é romântico. Eu acredito que o Brasil, vai ser o povo do caminho curto e sangrento!

Durante a Grande Tribulação não haverá opção para o caminho longo. Serão 42 meses (3 anos e meio) de pressão e perseguição. Ser um mártir é um processo de vários “sim’s”; Paulo dizia que ele morria a cada dia. Ninguém acorda um dia e diz: vou ser um mártir. Uma forma de se preparar para ser um mártir é lutar contra o pecado. Muitos pensam que não serão mártires por que pensam que são escolhidos para serem protegidos, por causa disso terão dificuldades.

Deus tem nos chamado para derramar nossas vidas a seus pés, como anunciou Maria ali em Betânia. Termino aqui com as palavras do Dalton a respeito de Maria de Betânia[3]:

 

Amigos, eu pergunto a vocês: a herança de vocês em Cristo é maior do que tudo o que vocês têm na terra? Oh, pela graça de amá-Lo com tamanho abandono! Você derramará aos pés dEle o que você tem de mais precioso? Você dará a si mesmo por completo a Ele e não se importar quando o mundo lhe escarnecer: “Vejam como ele está jogando fora a sua vida”, ou “Que desperdício de tempo e energia.” Que persistamos em meio à vergonha terrena e deixemos tudo por uma maior herança celestial.

Embora ela nunca tenha dado um testemunho de mártir em sua morte (pelo menos é o que sabemos), Maria de Betânia exemplifica o espírito de martírio de forma mais clara do que qualquer um no Novo Testamento (é por isso que Jesus mandou que os seus discípulos contassem a história dela a todos os povos e nações a onde eles fossem enviados). A fragrância da devoção dela profetizou o sacrifício daqueles futuros mártires presentes na sala naquela noite. Por meio daqueles jovens rapazes, “o aroma de Cristo” seria difundido entre as nações nas quais mais tarde eles sangrariam.

Os discípulos nunca se esqueceriam do aroma daquele perfume. A memória de sua fragrância e a devoção que ela representava permaneceu com eles até o dia em que eles derramaram as suas próprias veias na mesma paixão santa que tomou conta dessa preciosa mulher de Betânia.

Maria derramou o seu óleo. Os discípulos derramaram o seu sangue. Aos olhos do Senhor, ambas as ofertas eram belas, não simplesmente porque elas eram custosas, mas porque elas eram motivadas pelo amor. Esse é o verdadeiro espírito de martírio.

 

MARANATA!



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[2] O significado da palavra Maranata tem o sentindo de que “Ele veio e também virá”. Pode ser entendido tanto no passado como futuro. Portanto, a mensagem Maranata é completa.

[3] Extraído do livro: Até a morte

Site da FAI: https://www.faimission.org/

sexta-feira, 4 de setembro de 2020

Cântico dos cânticos - uma jornada de amor


 

PREFÁCIO

Esse texto foi escrito no final do ano passado, em parceria com meu amigo Pr. Lucas Emanuel. Tínhamos em vista o aperfeiçoamento da espiritualidade cristã e do relacionamento pessoal de cada cristão com a trindade. Espero que o leitor aprecie. 


INTRODUÇÃO

O livro de Cantares / Cântico dos Cânticos é um livro romântico, que expressa intimidade e desejo profundo entre seus amantes. É curioso como um livro com seu teor e estrutura poética se encontra bem no meio da Bíblia[1].

Esse livro pode (e deve) ser estudado pela perspectiva exegética natural, o relacionamento de Salomão com sua amada Sulamita, essa perspectiva é bastante usada nos encontros de casais, como também em aconselhamentos do mesmo segmento. Todavia, há uma perspectiva exegética de estudo e meditação que muitos de nós ignoramos; alguns a rejeitam de forma completa, outros de forma parcial, todavia é um dos prismas mais profundos da espiritualidade cristã e de nosso relacionamento com a pessoa de Jesus Cristo.

Nesse artigo iremos nos ater a essa segunda perspectiva do livro[2]. O relacionamento de Jesus com sua Igreja.

1.      Panorama Geral do livro

Cantares relata o processo de maturidade espiritual da noiva, os momentos de intimidade e plena felicidade, as respostas positivas e negativas ao noivo, os elogios trocados e o triunfo da noiva quando esta entra em parceria com seu amado e recostada sobre seu peito sobe do deserto.

Há dois temas principais abordados dentro desse livro: 1) As emoções de Deus pela noiva e 2) O primeiro mandamento. Há uma guerra pela nossa identidade por isso precisamos estudar e nos aprofundar dessas verdades.

Segundo Mike Bickle[3]: “Deus nos criou com o desejo de ser fascinado e assombrado, cheio de maravilha e maravilha. Nós não podemos remover nosso anseio por fascinação ou nos arrependermos dela. É uma parte significativa do nosso design criativo. Nós iremos satisfazê-lo em Deus ou nas trevas.”.

Essa verdade é expressa em várias partes das escrituras. Isaías profetizou que o Espírito enfatiza a beleza de Jesus na geração de Seu retorno (Is 33:17); Davi descobriu que somente UMA coisa é necessária, viver todos os dias para contemplar  a BELEZA do Senhor (Sl 27:4); Paulo abriu mão de todas as coisas quando contemplou a beleza de Jesus! Jane Guyon não se importou em viver encarcerada por alguns anos por ser uma contempladora da beleza de Cristo, através das escrituras. Hudson Taylor, pai das missões para interior da China, despejou sua vida como oferta aos pés do noivo ao contemplar a beleza do Senhor!

Nós também, podemos viver como esses homens e mulheres viveram se vermos o que eles viram! Ouso afirmar, juntamente com Bickle que o livro de Cântico dos Cânticos foi deixado com esse propósito, desfrutarmos e sermos fascinados pela beleza de Deus!

Sempre que a visão celestial vem, ela sempre destrói a visão terrena. Você nunca mais poderá ser o mesmo, nunca poderá fazer o que planejou fazer. Ela tanto muda sua direção completamente como muda o próprio caráter daquilo com que você está envolvido. É tão drástico, tão revolucionário. (Stephen Kaugn)

O Espírito Santo nos acompanha nessa caçada pela beleza de Jesus. Os sentimentos e pensamentos do Senhor são revelados a nós por meio dessa conexão com a trindade. E durante esse processo acontece conforme afirmou Hudson Taylor: A beleza do noivo será vista na noiva!

2.      A busca de Deus pelo nosso coração[4]

Antes mesmo da criação do homem, fomos projetados para estarmos em comunhão e plena harmonia com a trindade. O desejo furioso de Deus em nos ter para si é a razão de toda a redenção e eternidade.

Deus tem uma herança em nós e queremos entrar em parceria com Ele nessa herança. E por causa disso a conquista de nosso coração é fundamental.

A jornada na noiva se inicia em ser fascinada por Ele – o fascínio é fundamental, como já afirmamos – é por causa disso que a vemos iniciar o diálogo de amor: Beije-me ele com os beijos da sua boca; porque melhor é o teu amor do que o vinho. (Cânticos 1:2)[5].

Ariadna Oliveira afirma que os beijos de Jesus são como tatuagens feitas em nosso espírito. Quando a noiva pede para ser beijada com os beijos da boca do amado ela está apontando para o que está na boca do amado, a palavra. Em Apocalipse 19:15 que da boca de Jesus saia uma espada afiada; João 1 fala que ele é a palavra, Hebreus 4:12 mostra que essa espada é capaz de revelar os desejos mais íntimos do nosso coração e transformá-los (Rm 12:2).

O mundo já não pode mais ser para ela o que já foi; a noiva aprendeu a amar ao seu Senhor, e nenhum outro relacionamento que não seja Ele pode satisfazê-la. Suas visitações podem ser ocasionais e breves, mas são preciosos momentos de deleite. Esses momentos são lembrados com prazer nos intervalos, e a repetição deles é muito desejada. [...] O noivo está esperando por ti todo o tempo. [...] Tome a correta posição diante Dele, e Ele estará mais do que pronto, mais do que contente em satisfazer teus mais profundos anelos e todas as tuas necessidades. [...] (Hudson Taylor)[6]

É nesse processo de contemplação e lapidação que nos encontramos fascinados, apaixonados pelo noivo.

3.      Como enxergamos nossa identidade

No primeiro capítulo do livro mostra claramente o efeito dos beijos do amado, em como a noiva se via (Ct 1:5): Eu sou a flor que nasce na planície de Sarom, o lírio que cresce no vale. (Cânticos 2:1)[7].

Nós somos belos e sinceros, é assim que Deus nos vê! O inimigo sempre traz acusações de que somos fracassados e desqualificados, mas essa não é a verdade a respeito do que Deus pensa sobre nós! Ele enxerga o nosso fraco ser, e Ele nos diz: O seu pecado não te define! Eu te defino! Olha para mim!

Quando a noiva começa a ter revelação de quem ela é, ela começa a declarar isso! E essa revelação vem a medida que a noiva contempla. Ela vê a beleza Dele, e se vê bonita!

4.      Ele nos convida descansar na obra finalizada da cruz (Ct 2:3-5)

Quando descubro que sou amado não pelas minhas medidas (padrões) consigo me posicionar com confiança. A confiança no amor que Ele sente por mim me leva a sentar, alimentar Dele, e ser fortalecido! Esse é o perfeito amor que lança fora todo medo de nossos corações, não o amor que sentimos por Ele, mas o amor que Ele sente por nós!

É firmado nisso que posso entender e declarar: EU SOU O DELEITE DO AMADO! Quando encontramos esse lugar em Deus não queremos sair dele, pois é delicioso. Enquanto descansamos debaixo da macieira, Ele está pulando sobre os montes (problemas) sem nenhum esforço.

5.      Jesus convida a noiva a avançar com Ele.

Depois que nossa identidade está firmada e temos a certeza do Seu amor o noivo nos convida a fazer parceria com Ele (Ct 2:10-13). Ele desafia a noiva a sair da zona de conforto para leva-la a lugares mais altos com Ele.

Essa é uma postura de coração, onde dependeremos mais dele e nossa fé crescerá, onde alcançaremos um padrão mais elevado de maturidade espiritual.

Mas, a noiva dá uma resposta negativa ao Senhor (Ct 2:17) – ela diz: vá você, enquanto te espero aqui nesse lugar confortável. Volte para perto de mim amado!

Enquanto ela mantém sua própria vontade e o controle de suas possessões, tem de se contentar em viver de seus próprios recursos; ela não pode reivindicar os Dele. [...] O REAL SEGREDO DE UMA VIDA INSATISFEITA ESTÁ, MUITO FREQUENTEMENTE, EM UMA VONTADE NÃO RENDIDA. (Hudson Taylor – GRIFO NOSSO)

Então, ela experimenta a disciplina em amor de Jesus. Porque ele tem compromisso com a maturidade da noiva! A disciplina não é uma forma de rejeição do noivo pela noiva, mas é uma forma de mostrar o quanto Ele a ama para deixa-la naquele nível de relacionamento (Ct 3:1-4).

Percebe que a disciplina é a ausência Dele? Como Ele sabe que a noiva não suportará viver sem sua presença – porque nesse nível ela já experimentou tanto Dele que realmente não terá forças de viver sem Ele – então Ele se ausenta, para que ela obedeça e vá encontra-lo.

Fr. Pedro de Paulo di Bernardino traz uma importante ressalva sobre os efeitos das disciplinas espirituais sobre nosso eu interior: A ascese da mortificação e da penitência é importante para libertar a alma e o coração das dependências que os ligam às realidades terrenas como se não se pudesse passar sem elas. Muitas vezes são coisas pequenas, mas que impedem voar livremente para Deus.[8]

Ela encontra quem ela ama quando sai do lugar de conforto. O noivo a havia chamado para as montanhas, e no texto mostra que ela vai até a cidade (Ct 3:1-4) e tem um contato novamente com o noivo. Ela está respondendo, mas ainda está em sua zona de conforto. Ela ainda tem reservas, e não entregou tudo por imaturidade.

Que nossa oração e disposição de coração sejam semelhantes aos de Elizabete da Trindade: ...que o mundo não me impeça de ir a Ele, que as futilidades dessa terra não me ocupem, que eu não me apegue a elas!

6.      Os elogios do noivo (Ct 4:1-5)

Nessa sequência de versículos o noivo começa a descrever a beleza dela em oito atributos de caráter. E todas essas comparações (coerentes com o padrão de beleza daquele contexto) para dizer: você já me agrada! Mesmo que os passos foram pequenos e avanço não foi total, já estou orgulhoso de você!

E mais uma vez baseado nesse perfeito amor que nos constrange, a noiva responde de forma completa e se dispõe sem reservas (Ct 4:6).

A noiva temerosa não pode se desfazer não pode se desfazer totalmente de seus receios; mas a falta de paz e o anelo tornam-se insuportáveis, e ela resolve render-se totalmente, e ai poderá segui-lo integralmente. Ela submeterá todo o seu ser a Ele, coração e força, influência e possessões. Nada pode ser tão insuportável quanto a Sua ausência! Se Ele a guiar para outro Moriá, ou até mesmo a um calvário, ela o seguirá. [...] Quando o coração se submete, então Jesus reina. E quando Jesus reina, HÁ DESCANSO!! (Hudson Taylor)

7.      A resposta da Noiva

Na continuação do texto percebemos que o convite de parceria permanece e a exaltação dos frutos produzidos por sua amada dissipa todo medo do porvir, então a noiva declara: Levante-se, vento sul! Soprem em meu jardim e espalhem sua fragrância por toda parte. Entre em seu jardim, meu amor, e saboreie os melhores frutos. (Ct 4:16)

Após essa declaração Ele se apropria dela (Ct 5:1) e logo em seguida vem o momento de provação (Ct 5:2), o noivo a convida para participar de seus sofrimentos. Ele está perguntando: “Você vai passar comigo por isso? Quando as coisas não estiverem dando certo, você vai continuar sendo meu jardim particular?”.

Essa é a beleza do nosso rei, Ele deseja que adentremos nesse lugar de sofrimento, porque ele sabe o que isso vai produzir em nós! Como disse Peterson[9] a oração no Espírito Santo é quando Cristo ora em nós! O lugar do sofrimento, onde participaremos das aflições de Cristo começa no lugar de oração, é ali, como diz Peterson que seremos afetados.

John Hyde[10] foi um intercessor, que participou das aflições de Cristo. O apelo dele para sua geração foi por agonia, lágrimas e fervor. Esse é o caminho que a noiva do Senhor precisa trilhar.

Michael Duque Estrada em seu livro Cultura de Oração[11] traz uma visão do coração de Deus, como uma chaga aberta. Uma ferida não curada, exposta nas mazelas desse mundo – é a mulher violentada, a criança abusada e a infância vendida. Esses são os lugares onde o amado de nossas almas está, e Ele nos convida a estarmos em parceria com Ele.

Sobre os frutos sofrimento e martírio, Ariadna Oliveira[12] ressalta:

O silêncio de um cristão obediente não significa o seu fim, nem mesmo o último ato nutrido por uma frustração ou desesperança, mas uma porta escancarada que põe termino a uma espera! [...] Enquanto nossa visão opaca e limitada afirma ser isso insano, o silêncio oferecido a Deus em obediência, a morte interior e a renúncia do eu formam a mais legítima oração que com poder rasgam o temporal e gera, lá na eternidade, um silêncio ainda maior (Ap. 8:1-4).

O caminho de maturidade da noiva, a resposta, mesmo que tardia em participar dos sofrimentos de Cristo (Ct 5:7), o testemunho dela ante ao restante do corpo (Mulheres de Jerusalém) a respeito de quem é esse amado e o que ele tem de tão especial, a fazem se tornar irresistível ao noivo e Ele já não pode negar-lhe mais nada (Ct 56:5).

Estar em parceria fala de comunicar ao restante do corpo aquilo que está no coração do noivo (e no coração de Deus). Bob Sorge usa a expressão manifestar a voz para essa definição.

Manifestar a voz exige a solidão e abandono do deserto. Deus levará alguns de seus servos para o deserto a fim de prepara-los com uma mensagem [...] Para receber essa mensagem, porém, é preciso um grau incomum de consagração aos propósitos de Deus enquanto ele os guia ao deserto. [...] Deserto é, por definição, um lugar habitado por pouca gente, sobretudo porque as condições não são propícias para o modo de vida diário da maioria das pessoas. Trata-se, portanto, de um lugar de solidão, de confinamento imposto, sem NENHUMA COMODIDADE, um lugar de ostracismo, onde o ambiente é inóspito. É o lugar em que Deus se encontra com seu servo ou sua serva. É a reunião de apenas duas pessoas para se realizar uma profunda formação espiritual. É ONDE DEUS DÁ À PESSOA UMA MENSAGEM FORMADA COM BASE NA VIDA DELA, e não em sua biblioteca.

Por fim ela sobe vencida do deserto, recostada sobre seu amado. Ela está em parceria com Ele! O noivo responde ao pedido dela por exclusividade: “Eu vou colocar meu amor como um selo de fogo! Ela é minha! Exclusivamente minha!” (Ct 8:6).

E assim, a beleza do noivo será vista na noiva. (Hudson Taylor)

 

P.S.: Um coração apaixonado e totalmente envolvido produz poesias como a de George Matheson:

Torna-me um cativo, Senhor,

E, então, livre serei,

Força-me a render minha espada,

E conquistador serei. [...]

Minha vontade não é minha própria,

Até que a tornes Tua;

Se ela subisse ao trono de um monarca,

Ela teria de resignar a sua coroa.

Minha vontade só fica firme, em meio à estrondosa luta, quanto em Teu peito se apóia e descobre sua vida em Ti.

 

Só um coração rendido e saudado, consegue admitir como Agostinho, que tarde amou o Senhor. Todos os dias, horas, minutos são insuficientes e reconhecemos que poderíamos amá-lo mais e por mais tempo! Todavia, Ele vê o nosso fraco ser e nos espera todos os dias com a mesma intensidade de se revelar e nos amar!

 



[1] A estilística literária dos hebreus tem uma característica peculiar de colocar no centro do texto (narrativa / poema..) aquilo que é o principal. É sabido que o cânon bíblico foi organizado bem depois e em um contexto cultural diferente da cosmovisão judaica, mas acredito em uma divina providencia de preservação também da estilística. Todo o texto quanto contexto e estilo literário foram inspirados por Deus.

[2] Te convido, leitor, a estar com sua bíblia aberta no livro de Cantares, durante toda a leitura.

[3] Fundador e pastor da International House of prayer – conhecida mundialmente como IHOP / no Brasil FHOP.

[4] Baseado em uma das aulas ministrada pela Blaire Fraim, na Escola de Verão da FHOP – Floripa-Brasil.

[5] Versão: ACF – Almeida Corrigida e Fiel.

[6] Cântico dos Cânticos – Editora dos Clássicos.

[7] Versão: NVT – Nova Versão Transformadora.

[8] Ressalto a penitencia com conotação de abster-se de coisas que nos dão prazer. A palavra penitência no contexto monástico está relacionada não somente com castigos físicos, mas principalmente ao jejum.

[9] Peterson sobre a vida de oração de John Hyde – livreto da editora Impacto.

[10] Seus biógrafos afirmam que Hyde morreu com o coração deslocado (do lugar normal) de tanto orar e agonizar pelos perdidos.

[11] Editora Impacto

[12] De volta para casa – editora Impacto