Mas,
a meia noite os céus se abre no horizonte a luz que enche toda terra é o Rei,
acordam os que dormem no Senhor o choro torna-se em louvor e todo o olho o vê.
(Leonardo
Gonçalves)
Um dos pontos básicos e centrais da fé
cristã é a doutrina da ressurreição dos mortos. É um ensino que enche nosso
coração de esperança e nos faz regozijar, mesmo ante a tristeza de nos
depararmos com a morte em nosso dia a dia. É válido ressaltar que não é utopia,
é esperança. Nossa fé não pode ser “a aposta de Pascal”[1],
mas como o escritor de Hebreus deixa claro: certeza! Nossa fé é certeza! Essa
certeza, expressa nos textos neotestamentários, precisa nos inspirar a crer sem
duvidar. A ressurreição dos mortos é a forma pela qual a igreja vive.
Por mais básico e central que seja esse
tema, pouco tem se falado sobre ele nos púlpitos e em nossas reuniões.
Além disso, a ressurreição dos mortos é
o coração dos estudos escatológicos. É conhecida como escatologia pessoal
(indivíduo)[2].
Não fomos criados para a morte, Deus colocou a eternidade no coração do homem
como lembrete (Eclesiastes 3:11). É justamente por isso que choramos quando nos
deparamos com a morte, nosso chamado é para a vida!
Mas
Cristo de fato ressuscitou dos mortos. Ele é o primeiro fruto da colheita
de todos que adormeceram. Uma vez que a morte entrou no mundo por meio de um
único homem, agora a ressurreição dos mortos começou por meio de um só homem.
Assim como todos morremos em Adão, todos que são de Cristo receberão nova vida.
Mas essa ressurreição tem uma sequência: Cristo ressuscitou como o primeiro
fruto da colheita, e depois todos que são de Cristo ressuscitarão quando ele
voltar.
(I
Coríntios 15:20-23)
a) JESUS
É A PRIMÍCIA ESCATOLÓGICA – A ideia de martírio para os cristãos do primeiro
século era algo presente no coração de cada um, posto que viver e morrer fazia
parte de uma mesma realidade. A morte é uma coroa para o cristão, porque ele já
vive a realidade da ressurreição. Não havia uma visão dicotômica da realidade
(mundo dos vivos x mundo dos mortos), isso entrou em nossa cosmovisão depois,
por meio da influência grega. VIVER E MORRER FAZIA PARTE DA MESMA REALIDADE! A
morte não é um desfecho da vida, mas a continuação dela. É importante ressaltar
que o martírio em nada se compara ao suicídio, visto que o primeiro é motivado
pelo amor e o segundo pelo ódio (de si ou da vida). É justamente essa certeza
que nos leva a derramar nossas vidas aos pés do Senhor! Essa é a realidade da
igreja! No final do livro de Mateus e início do livro de Atos, Jesus fala que
seremos suas testemunhas, a palavra no original é mártires. Podemos ficar
abatidos com a situação presente, mas olhamos para a realidade última com cara
de ressurreição, com um sorriso! O sorriso revela a ressurreição.
b)
A RESSURREIÇÃO É O PROCESSO FINAL DA
SANTIFICAÇÃO – Seremos tal qual ele é! Nosso corpo que agora é corruptível,
passível de deterioração e fim, será substituído por um corpo incorruptível e
glorioso, completamente livre do pecado. Nós aguardamos a promessa mais louca
do Novo Testamento: ter a mesma natureza do Filho (I João 3:1-2). Paulo afirma:
Pois sabemos que, até agora, toda a
criação geme, como em dores de parto. E nós, os que cremos, também gememos,
embora tenhamos o Espírito em nós como antecipação da glória futura, pois
aguardamos ansiosos pelo dia em que desfrutaremos nossos direitos de adoção,
incluindo a redenção de nosso corpo. (Romanos 8:22-23) A glorificação do
nosso corpo é o processo final da nossa salvação, quando poderemos cumprir em
plenitude o propósito para o qual Deus nos criou. Esse propósito está ligado a
Imagem e Governo (domínio), seremos semelhantes a Ele para que possamos, em
parceria com a trindade, restaurar a terra por meio de nossos dons e profissões
(vocações) durante o milênio. Já podemos usar nossas vocações agora? Claro!
Devemos buscá-las em Deus e já exercer, mas no milênio estaremos em plenitude.
Esse é forte motivo que deve motivar a Igreja a orar pelo retorno do Messias.
c)
OS PROFETAS FALARAM A RESPEITO DESSA
VERDADE – “Teus mortos, porém, viverão;
seus corpos ressuscitarão. Aqueles que dormem na terra se levantarão e cantarão
de alegria. Pois tua luz que dá vida descerá como o orvalho sobre teu povo no
lugar dos mortos.” (Isaías 26:19) Jesus é essa luz que desceu como orvalho,
Ele veio para esse fim, vencer a morte; essa vitória será completa para aqueles
que o pertencem em sua segunda vinda. A morte, segundo o livro de Apocalipse,
será vencida completamente no final do milênio (falaremos mais sobre isso nas
próximas postagens). “Muitos dos que
estão mortos e enterrados ressuscitarão..” (Daniel 12:2).
d)
JESUS PREGOU SOBRE A RESSURREIÇÃO – Nos
evangelhos sinóticos, Jesus argumenta com o intuito de combater o ensino dos
saduceus, uma das seitas judaicas da época, os quais não acreditavam na
ressurreição dos mortos. Ele argumenta a partir da forma como Deus se apresenta
a Moisés (Mateus 22:31-32; Marcos 12:18-27; Lucas 20:37), o Deus de Abraão,
Isaque e Jacó. Em seus sermões no evangelho de João, Jesus vai usar a palavra
ressurreição ou um termo semelhante, se referindo a nós, mais de 8 vezes. “...mas que eu ressuscite todos no último
dia...e eu os ressuscitarei no último dia.” (João 6:39-40) “...e no último dia
eu o ressuscitarei.”(João 6:44) “...e eu o ressuscitarei no último dia.” (João
6:54) “Eu sou a ressurreição e a
vida. Quem crê em mim viverá, mesmo depois de morrer.” (João 11:25) Ou
seja, esse era um assunto relevante para Jesus enquanto ele esteve aqui na
terra, portanto deve ser relevante para nós também!
e)
O ARGUMENTO APOSTÓLICO – Tanto Paulo
como Pedro e João trata a respeito desse tema em suas cartas. A ressurreição é
certeza para todo crente da igreja do primeiro século. Paulo, ainda, é mais
enfático ao argumentar contra aqueles que tentavam desviar a igreja desse
ensino: “Se não haverá ressurreição,
‘comamos e bebamos, porque amanhã morreremos’!” (I Coríntios 15:32) Esse
argumento nos leva a entender que se não existe ressurreição tudo o que
pregamos e vivemos – obedecendo e buscando uma vida santa como discípulos de
Jesus – não tem sentido. Se a vida acaba com a morte, porque Jesus veio? É
justamente por esse fato que a doutrina da ressurreição é a espinha dorsal da
pregação do evangelho e da escatologia! Viver
e morrer são parte da mesma realidade!
f)
OBEDECER É MAIS IMPORTANTE DO QUE
ESTARMOS VIVOS – Paulo mostra certeza de estar onde Deus queria que ele
estivesse, principalmente no momento em que caminhava para a morte (At 21:13 /
At 20:24 / Hb 11:35 / Ap 12:11). Jesus deixou claro que “Aqueles que aceitam meus mandamentos e lhes obedecem são os que me
amam. [...] Quem me ama faz o que eu ordeno.” (João 14:21 e 23) Obedecer é
estar em parceria, é andar em submissão. Obediência faz parte do discipulado.
No verso 21 desse capítulo de João, Jesus diz que se revelará aqueles que o
obedecem. Obedecer implica em ser amigo do noivo!
A escatologia pessoal é aquilo que nos
traz esperança; uma verdade que precisamos nos apegar e trazer à memória
(Lamentações 3:21). Outro ponto que faz a igreja do ocidente ter dificuldades
em lidar com a morte é não estar acostumada com o martírio vermelho[3] em
seu cotidiano; a perseguição, as prisões e correntes não são parte de nosso
contexto social como discípulos de Jesus desse lado do mundo. Épocas como
essas, de doença e risco eminente de morte, devem nos fazer lembrar que a vida
e a morte fazem parte de um mesmo plano. Portanto irmãos, preguemos sobre a
ressurreição! Esse ensino precisa incendiar nossos corações e nos fazer amar
com intensidade a volta de Jesus!
Unimo-nos ao Espírito para dizer:
Maranata![4]
[1]
Melhor crer e quando chegar ao fim e não ter nada, do que o contrário.
[2] Baseado
em uma aula com o pr. Aldair Queiroz (FHop) na mentoria escatológica da
Abase.org
[3]
Forma como os estudiosos classificam o martírio vindo por meio da morte e
derramamento de sangue daqueles que creem em Jesus.
[4] O
significado da palavra Maranata traz o resumo de todo o evangelho: Ele veio e
também virá! Ele já esteve aqui entre nós, e estará novamente, e permanecerá
para sempre!