sexta-feira, 29 de maio de 2020

Escatologia II – Escatologia do indivíduo



Mas, a meia noite os céus se abre no horizonte a luz que enche toda terra é o Rei, acordam os que dormem no Senhor o choro torna-se em louvor e todo o olho o vê.
(Leonardo Gonçalves)


Um dos pontos básicos e centrais da fé cristã é a doutrina da ressurreição dos mortos. É um ensino que enche nosso coração de esperança e nos faz regozijar, mesmo ante a tristeza de nos depararmos com a morte em nosso dia a dia. É válido ressaltar que não é utopia, é esperança. Nossa fé não pode ser “a aposta de Pascal”[1], mas como o escritor de Hebreus deixa claro: certeza! Nossa fé é certeza! Essa certeza, expressa nos textos neotestamentários, precisa nos inspirar a crer sem duvidar. A ressurreição dos mortos é a forma pela qual a igreja vive.
Por mais básico e central que seja esse tema, pouco tem se falado sobre ele nos púlpitos e em nossas reuniões.
Além disso, a ressurreição dos mortos é o coração dos estudos escatológicos. É conhecida como escatologia pessoal (indivíduo)[2]. Não fomos criados para a morte, Deus colocou a eternidade no coração do homem como lembrete (Eclesiastes 3:11). É justamente por isso que choramos quando nos deparamos com a morte, nosso chamado é para a vida!

Mas Cristo de fato ressuscitou dos mortos. Ele é o primeiro fruto da colheita de todos que adormeceram. Uma vez que a morte entrou no mundo por meio de um único homem, agora a ressurreição dos mortos começou por meio de um só homem. Assim como todos morremos em Adão, todos que são de Cristo receberão nova vida. Mas essa ressurreição tem uma sequência: Cristo ressuscitou como o primeiro fruto da colheita, e depois todos que são de Cristo ressuscitarão quando ele voltar.
(I Coríntios 15:20-23)

a)      JESUS É A PRIMÍCIA ESCATOLÓGICA – A ideia de martírio para os cristãos do primeiro século era algo presente no coração de cada um, posto que viver e morrer fazia parte de uma mesma realidade. A morte é uma coroa para o cristão, porque ele já vive a realidade da ressurreição. Não havia uma visão dicotômica da realidade (mundo dos vivos x mundo dos mortos), isso entrou em nossa cosmovisão depois, por meio da influência grega. VIVER E MORRER FAZIA PARTE DA MESMA REALIDADE! A morte não é um desfecho da vida, mas a continuação dela. É importante ressaltar que o martírio em nada se compara ao suicídio, visto que o primeiro é motivado pelo amor e o segundo pelo ódio (de si ou da vida). É justamente essa certeza que nos leva a derramar nossas vidas aos pés do Senhor! Essa é a realidade da igreja! No final do livro de Mateus e início do livro de Atos, Jesus fala que seremos suas testemunhas, a palavra no original é mártires. Podemos ficar abatidos com a situação presente, mas olhamos para a realidade última com cara de ressurreição, com um sorriso! O sorriso revela a ressurreição.
b)      A RESSURREIÇÃO É O PROCESSO FINAL DA SANTIFICAÇÃO – Seremos tal qual ele é! Nosso corpo que agora é corruptível, passível de deterioração e fim, será substituído por um corpo incorruptível e glorioso, completamente livre do pecado. Nós aguardamos a promessa mais louca do Novo Testamento: ter a mesma natureza do Filho (I João 3:1-2). Paulo afirma: Pois sabemos que, até agora, toda a criação geme, como em dores de parto. E nós, os que cremos, também gememos, embora tenhamos o Espírito em nós como antecipação da glória futura, pois aguardamos ansiosos pelo dia em que desfrutaremos nossos direitos de adoção, incluindo a redenção de nosso corpo. (Romanos 8:22-23) A glorificação do nosso corpo é o processo final da nossa salvação, quando poderemos cumprir em plenitude o propósito para o qual Deus nos criou. Esse propósito está ligado a Imagem e Governo (domínio), seremos semelhantes a Ele para que possamos, em parceria com a trindade, restaurar a terra por meio de nossos dons e profissões (vocações) durante o milênio. Já podemos usar nossas vocações agora? Claro! Devemos buscá-las em Deus e já exercer, mas no milênio estaremos em plenitude. Esse é forte motivo que deve motivar a Igreja a orar pelo retorno do Messias.
c)      OS PROFETAS FALARAM A RESPEITO DESSA VERDADE – “Teus mortos, porém, viverão; seus corpos ressuscitarão. Aqueles que dormem na terra se levantarão e cantarão de alegria. Pois tua luz que dá vida descerá como o orvalho sobre teu povo no lugar dos mortos.” (Isaías 26:19) Jesus é essa luz que desceu como orvalho, Ele veio para esse fim, vencer a morte; essa vitória será completa para aqueles que o pertencem em sua segunda vinda. A morte, segundo o livro de Apocalipse, será vencida completamente no final do milênio (falaremos mais sobre isso nas próximas postagens). “Muitos dos que estão mortos e enterrados ressuscitarão..” (Daniel 12:2).
d)     JESUS PREGOU SOBRE A RESSURREIÇÃO – Nos evangelhos sinóticos, Jesus argumenta com o intuito de combater o ensino dos saduceus, uma das seitas judaicas da época, os quais não acreditavam na ressurreição dos mortos. Ele argumenta a partir da forma como Deus se apresenta a Moisés (Mateus 22:31-32; Marcos 12:18-27; Lucas 20:37), o Deus de Abraão, Isaque e Jacó. Em seus sermões no evangelho de João, Jesus vai usar a palavra ressurreição ou um termo semelhante, se referindo a nós, mais de 8 vezes. “...mas que eu ressuscite todos no último dia...e eu os ressuscitarei no último dia.” (João 6:39-40) “...e no último dia eu o ressuscitarei.”(João 6:44) “...e eu o ressuscitarei no último dia.” (João 6:54) “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim viverá, mesmo depois de morrer.” (João 11:25) Ou seja, esse era um assunto relevante para Jesus enquanto ele esteve aqui na terra, portanto deve ser relevante para nós também!
e)      O ARGUMENTO APOSTÓLICO – Tanto Paulo como Pedro e João trata a respeito desse tema em suas cartas. A ressurreição é certeza para todo crente da igreja do primeiro século. Paulo, ainda, é mais enfático ao argumentar contra aqueles que tentavam desviar a igreja desse ensino: “Se não haverá ressurreição, ‘comamos e bebamos, porque amanhã morreremos’!” (I Coríntios 15:32) Esse argumento nos leva a entender que se não existe ressurreição tudo o que pregamos e vivemos – obedecendo e buscando uma vida santa como discípulos de Jesus – não tem sentido. Se a vida acaba com a morte, porque Jesus veio? É justamente por esse fato que a doutrina da ressurreição é a espinha dorsal da pregação do evangelho e da escatologia! Viver e morrer são parte da mesma realidade!
f)       OBEDECER É MAIS IMPORTANTE DO QUE ESTARMOS VIVOS – Paulo mostra certeza de estar onde Deus queria que ele estivesse, principalmente no momento em que caminhava para a morte (At 21:13 / At 20:24 / Hb 11:35 / Ap 12:11). Jesus deixou claro que “Aqueles que aceitam meus mandamentos e lhes obedecem são os que me amam. [...] Quem me ama faz o que eu ordeno.” (João 14:21 e 23) Obedecer é estar em parceria, é andar em submissão. Obediência faz parte do discipulado. No verso 21 desse capítulo de João, Jesus diz que se revelará aqueles que o obedecem. Obedecer implica em ser amigo do noivo!
A escatologia pessoal é aquilo que nos traz esperança; uma verdade que precisamos nos apegar e trazer à memória (Lamentações 3:21). Outro ponto que faz a igreja do ocidente ter dificuldades em lidar com a morte é não estar acostumada com o martírio vermelho[3] em seu cotidiano; a perseguição, as prisões e correntes não são parte de nosso contexto social como discípulos de Jesus desse lado do mundo. Épocas como essas, de doença e risco eminente de morte, devem nos fazer lembrar que a vida e a morte fazem parte de um mesmo plano. Portanto irmãos, preguemos sobre a ressurreição! Esse ensino precisa incendiar nossos corações e nos fazer amar com intensidade a volta de Jesus!

Unimo-nos ao Espírito para dizer: Maranata![4]




[1] Melhor crer e quando chegar ao fim e não ter nada, do que o contrário.
[2] Baseado em uma aula com o pr. Aldair Queiroz (FHop) na mentoria escatológica da Abase.org
[3] Forma como os estudiosos classificam o martírio vindo por meio da morte e derramamento de sangue daqueles que creem em Jesus.
[4] O significado da palavra Maranata traz o resumo de todo o evangelho: Ele veio e também virá! Ele já esteve aqui entre nós, e estará novamente, e permanecerá para sempre!

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