sábado, 19 de setembro de 2020

Maranatha - O caminho mais curto


With fire in His eyes and hair like wool 
And a voice like a torrent of waters so full 
Out of his mouth comes a double-edged sword 
He’s coming in glory 
He’s coming to make war 

(Maranatha - Dalton Thomas)


E aconteceu que, quando Faraó deixou ir o povo, Deus não os levou pelo caminho da terra dos filisteus, que estava mais perto; porque Deus disse: Para que porventura o povo não se arrependa, vendo a guerra, e volte ao Egito.

Mas Deus fez o povo rodear pelo caminho do deserto do Mar Vermelho; e armados, os filhos de Israel subiram da terra do Egito. E Moisés levou consigo os ossos de José, porquanto havia este solenemente ajuramentado os filhos de Israel, dizendo: Certamente Deus vos visitará; fazei, pois, subir daqui os meus ossos convosco.

Assim partiram de Sucote, e acamparam-se em Etã, à entrada do deserto. E o Senhor ia adiante deles, de dia numa coluna de nuvem para os guiar pelo caminho, e de noite numa coluna de fogo para os iluminar, para que caminhassem de dia e de noite. Nunca tirou de diante do povo a coluna de nuvem, de dia, nem a coluna de fogo, de noite.

(Êxodo 13:17-22)


Introdução: Essa palavra foi compartilhada em uma mentoria escatológica que participei pela abase.org, por Dalton Thomas. Missionário norte americano que lidera a FAI (Frontier Alliance International), agencia missionária que trabalha diretamente com o povo palestino (mulçumanos / árabes e israelenses) nas regiões de conflito no Oriente Médio. 


É muito importante olharmos para o passado antes que falarmos do futuro, há sempre padrões e ciclos. Todos nós conhecemos a história do êxodo, todavia o capítulo 13 nos mostra o porquê que eles tiveram que pegar o caminho mais longo, e não o desvio pela terra dos filisteus. Quando olhamos o mapa, percebemos que o caminho é bem curtinho para a terra de Canaã, passando pela faixa de Gaza. O povo não estava preparado para conquistar sua herança. Olhando para os elementos principais do texto: havia uma aliança, um inimigo que nos quer destruir, um caminho curto e um caminho longo que evita o conflito. Os livros de Números e Deuteronômio são frutos do caminho longo, do despreparo para a guerra.

Eu acredito que a mensagem Maranata é o caminho curto! Naquela época Deus corria o risco de acabar com uma geração inteira, pela falta de preparo deles para a guerra. A Igreja do ocidente pegou o caminho longo; e eu acredito que Deus está levando um grupo de pessoas que irá pegar o caminho curto, para que essas pessoas liderem por esse caminho. E o segredo é não desanimar quando estiver diante da batalha. Eu acredito que Deus está segurando o prumo na Igreja mundial e alinhando o que está torto, e Ele está fazendo isso por meio da mensagem Maranata[2]. Acredito, ainda, que esse prumo serve para nos ajudar a ir por esse caminho curto.

Veja bem, a travessia do Mar Vermelho é algo que Deus fez, mas que Deus não queria fazer; posto que, o desejo de Deus era que eles tivessem cruzado pelo caminho curto, evitando o deserto. Da mesma forma na volta de Jesus, muitos vão escolher o caminho longo, e vão perder o que Deus estará fazendo no caminho curto. O ponto central aqui é estar preparado, para não se arrepender da escolha.

Hoje podemos perguntar ao Senhor: pessoalmente como homem e coletivamente como corpo (igreja), qual é nosso caminho mais curto? Acredito que existem coisas que entregamos nossa vida a elas que nos deixam despreparados para a guerra. Por meio de todas essas escolhas seremos pessoas do caminho curto ou do caminho longo; isso dirá se seremos um povo preparado ou se seremos um povo imaturo que Deus optará por nos poupar do conflito, como fez com os israelitas após a saída do Egito. 

Nossa Bíblia teria sido um pouco mais curta, se o povo estivesse preparado. Nem todo deserto Deus gostaria que passássemos por ele. O deserto é algo precioso, entretanto, muitos desertos vêm por nossa imaturidade. A jornada pelo deserto não era o plano de Deus. Se Deus estava pronto para abrir o Mar Vermelho para proteger um povo imaturo o que Deus seria capaz de fazer para um povo maduro?

Então você (Dalton) quer dizer que esse milagre foi desnecessário? O milagre do Mar Vermelho foi um mal necessário, mas o desejo do coração de Deus era que seu povo estivesse preparado para lutar e conquistar a terra. Eu creio que esse é o chamado de Deus para vocês (brasileiros) ser o povo do caminho curto!

Nós celebramos o caminho do Êxodo, mas, na verdade Deus nem queria que tivesse sido daquela forma. O que Deus está dizendo a meu respeito hoje? Esse é um homem (mulher) que desistiria? Ou é aquele que está preparado para a guerra? Eu fico pensando em quantos milagres Deus faz por nós, simplesmente por misericórdia, mas estes não são um endosso do que estamos fazendo ou escolhendo.

O caminho mais curto é o caminho do primeiro mandamento, o caminho longo é o caminho dos outros deuses. O caminho curto é o caminho de encarar o diabo de frente, o caminho longo é Deus te protegendo do diabo. Não me entenda mal, muita coisa boa aconteceu no deserto, mas muita coisa boa poderia ter acontecido na terra de Israel, e muitas coisas teriam acontecido, como por exemplo: Moisés poderia ter entrado na terra prometida. E como poderia ter sido diferente se Moisés tivesse entrado em Canaã.

 Pense em todo o ciclo de pecado que foi colocado por conta do caminho longo; pense como a história da redenção teria sido diferente. Essa leitura do livro de Êxodo poderia ter sido diferente. Palavra profética para o Brasil: vá pelo caminho curto e seja exemplo para outras nações. Isso significa sacrifício e rendição completa! Nós queremos maturidade, queremos fazer do jeito de Jesus, queremos ser as pessoas do livro de apocalipse. Um povo preparado para a guerra e para a pressão. O caminho curto, sangrento! Sangrento não é romântico. Eu acredito que o Brasil, vai ser o povo do caminho curto e sangrento!

Durante a Grande Tribulação não haverá opção para o caminho longo. Serão 42 meses (3 anos e meio) de pressão e perseguição. Ser um mártir é um processo de vários “sim’s”; Paulo dizia que ele morria a cada dia. Ninguém acorda um dia e diz: vou ser um mártir. Uma forma de se preparar para ser um mártir é lutar contra o pecado. Muitos pensam que não serão mártires por que pensam que são escolhidos para serem protegidos, por causa disso terão dificuldades.

Deus tem nos chamado para derramar nossas vidas a seus pés, como anunciou Maria ali em Betânia. Termino aqui com as palavras do Dalton a respeito de Maria de Betânia[3]:

 

Amigos, eu pergunto a vocês: a herança de vocês em Cristo é maior do que tudo o que vocês têm na terra? Oh, pela graça de amá-Lo com tamanho abandono! Você derramará aos pés dEle o que você tem de mais precioso? Você dará a si mesmo por completo a Ele e não se importar quando o mundo lhe escarnecer: “Vejam como ele está jogando fora a sua vida”, ou “Que desperdício de tempo e energia.” Que persistamos em meio à vergonha terrena e deixemos tudo por uma maior herança celestial.

Embora ela nunca tenha dado um testemunho de mártir em sua morte (pelo menos é o que sabemos), Maria de Betânia exemplifica o espírito de martírio de forma mais clara do que qualquer um no Novo Testamento (é por isso que Jesus mandou que os seus discípulos contassem a história dela a todos os povos e nações a onde eles fossem enviados). A fragrância da devoção dela profetizou o sacrifício daqueles futuros mártires presentes na sala naquela noite. Por meio daqueles jovens rapazes, “o aroma de Cristo” seria difundido entre as nações nas quais mais tarde eles sangrariam.

Os discípulos nunca se esqueceriam do aroma daquele perfume. A memória de sua fragrância e a devoção que ela representava permaneceu com eles até o dia em que eles derramaram as suas próprias veias na mesma paixão santa que tomou conta dessa preciosa mulher de Betânia.

Maria derramou o seu óleo. Os discípulos derramaram o seu sangue. Aos olhos do Senhor, ambas as ofertas eram belas, não simplesmente porque elas eram custosas, mas porque elas eram motivadas pelo amor. Esse é o verdadeiro espírito de martírio.

 

MARANATA!



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[2] O significado da palavra Maranata tem o sentindo de que “Ele veio e também virá”. Pode ser entendido tanto no passado como futuro. Portanto, a mensagem Maranata é completa.

[3] Extraído do livro: Até a morte

Site da FAI: https://www.faimission.org/

sexta-feira, 4 de setembro de 2020

Cântico dos cânticos - uma jornada de amor


 

PREFÁCIO

Esse texto foi escrito no final do ano passado, em parceria com meu amigo Pr. Lucas Emanuel. Tínhamos em vista o aperfeiçoamento da espiritualidade cristã e do relacionamento pessoal de cada cristão com a trindade. Espero que o leitor aprecie. 


INTRODUÇÃO

O livro de Cantares / Cântico dos Cânticos é um livro romântico, que expressa intimidade e desejo profundo entre seus amantes. É curioso como um livro com seu teor e estrutura poética se encontra bem no meio da Bíblia[1].

Esse livro pode (e deve) ser estudado pela perspectiva exegética natural, o relacionamento de Salomão com sua amada Sulamita, essa perspectiva é bastante usada nos encontros de casais, como também em aconselhamentos do mesmo segmento. Todavia, há uma perspectiva exegética de estudo e meditação que muitos de nós ignoramos; alguns a rejeitam de forma completa, outros de forma parcial, todavia é um dos prismas mais profundos da espiritualidade cristã e de nosso relacionamento com a pessoa de Jesus Cristo.

Nesse artigo iremos nos ater a essa segunda perspectiva do livro[2]. O relacionamento de Jesus com sua Igreja.

1.      Panorama Geral do livro

Cantares relata o processo de maturidade espiritual da noiva, os momentos de intimidade e plena felicidade, as respostas positivas e negativas ao noivo, os elogios trocados e o triunfo da noiva quando esta entra em parceria com seu amado e recostada sobre seu peito sobe do deserto.

Há dois temas principais abordados dentro desse livro: 1) As emoções de Deus pela noiva e 2) O primeiro mandamento. Há uma guerra pela nossa identidade por isso precisamos estudar e nos aprofundar dessas verdades.

Segundo Mike Bickle[3]: “Deus nos criou com o desejo de ser fascinado e assombrado, cheio de maravilha e maravilha. Nós não podemos remover nosso anseio por fascinação ou nos arrependermos dela. É uma parte significativa do nosso design criativo. Nós iremos satisfazê-lo em Deus ou nas trevas.”.

Essa verdade é expressa em várias partes das escrituras. Isaías profetizou que o Espírito enfatiza a beleza de Jesus na geração de Seu retorno (Is 33:17); Davi descobriu que somente UMA coisa é necessária, viver todos os dias para contemplar  a BELEZA do Senhor (Sl 27:4); Paulo abriu mão de todas as coisas quando contemplou a beleza de Jesus! Jane Guyon não se importou em viver encarcerada por alguns anos por ser uma contempladora da beleza de Cristo, através das escrituras. Hudson Taylor, pai das missões para interior da China, despejou sua vida como oferta aos pés do noivo ao contemplar a beleza do Senhor!

Nós também, podemos viver como esses homens e mulheres viveram se vermos o que eles viram! Ouso afirmar, juntamente com Bickle que o livro de Cântico dos Cânticos foi deixado com esse propósito, desfrutarmos e sermos fascinados pela beleza de Deus!

Sempre que a visão celestial vem, ela sempre destrói a visão terrena. Você nunca mais poderá ser o mesmo, nunca poderá fazer o que planejou fazer. Ela tanto muda sua direção completamente como muda o próprio caráter daquilo com que você está envolvido. É tão drástico, tão revolucionário. (Stephen Kaugn)

O Espírito Santo nos acompanha nessa caçada pela beleza de Jesus. Os sentimentos e pensamentos do Senhor são revelados a nós por meio dessa conexão com a trindade. E durante esse processo acontece conforme afirmou Hudson Taylor: A beleza do noivo será vista na noiva!

2.      A busca de Deus pelo nosso coração[4]

Antes mesmo da criação do homem, fomos projetados para estarmos em comunhão e plena harmonia com a trindade. O desejo furioso de Deus em nos ter para si é a razão de toda a redenção e eternidade.

Deus tem uma herança em nós e queremos entrar em parceria com Ele nessa herança. E por causa disso a conquista de nosso coração é fundamental.

A jornada na noiva se inicia em ser fascinada por Ele – o fascínio é fundamental, como já afirmamos – é por causa disso que a vemos iniciar o diálogo de amor: Beije-me ele com os beijos da sua boca; porque melhor é o teu amor do que o vinho. (Cânticos 1:2)[5].

Ariadna Oliveira afirma que os beijos de Jesus são como tatuagens feitas em nosso espírito. Quando a noiva pede para ser beijada com os beijos da boca do amado ela está apontando para o que está na boca do amado, a palavra. Em Apocalipse 19:15 que da boca de Jesus saia uma espada afiada; João 1 fala que ele é a palavra, Hebreus 4:12 mostra que essa espada é capaz de revelar os desejos mais íntimos do nosso coração e transformá-los (Rm 12:2).

O mundo já não pode mais ser para ela o que já foi; a noiva aprendeu a amar ao seu Senhor, e nenhum outro relacionamento que não seja Ele pode satisfazê-la. Suas visitações podem ser ocasionais e breves, mas são preciosos momentos de deleite. Esses momentos são lembrados com prazer nos intervalos, e a repetição deles é muito desejada. [...] O noivo está esperando por ti todo o tempo. [...] Tome a correta posição diante Dele, e Ele estará mais do que pronto, mais do que contente em satisfazer teus mais profundos anelos e todas as tuas necessidades. [...] (Hudson Taylor)[6]

É nesse processo de contemplação e lapidação que nos encontramos fascinados, apaixonados pelo noivo.

3.      Como enxergamos nossa identidade

No primeiro capítulo do livro mostra claramente o efeito dos beijos do amado, em como a noiva se via (Ct 1:5): Eu sou a flor que nasce na planície de Sarom, o lírio que cresce no vale. (Cânticos 2:1)[7].

Nós somos belos e sinceros, é assim que Deus nos vê! O inimigo sempre traz acusações de que somos fracassados e desqualificados, mas essa não é a verdade a respeito do que Deus pensa sobre nós! Ele enxerga o nosso fraco ser, e Ele nos diz: O seu pecado não te define! Eu te defino! Olha para mim!

Quando a noiva começa a ter revelação de quem ela é, ela começa a declarar isso! E essa revelação vem a medida que a noiva contempla. Ela vê a beleza Dele, e se vê bonita!

4.      Ele nos convida descansar na obra finalizada da cruz (Ct 2:3-5)

Quando descubro que sou amado não pelas minhas medidas (padrões) consigo me posicionar com confiança. A confiança no amor que Ele sente por mim me leva a sentar, alimentar Dele, e ser fortalecido! Esse é o perfeito amor que lança fora todo medo de nossos corações, não o amor que sentimos por Ele, mas o amor que Ele sente por nós!

É firmado nisso que posso entender e declarar: EU SOU O DELEITE DO AMADO! Quando encontramos esse lugar em Deus não queremos sair dele, pois é delicioso. Enquanto descansamos debaixo da macieira, Ele está pulando sobre os montes (problemas) sem nenhum esforço.

5.      Jesus convida a noiva a avançar com Ele.

Depois que nossa identidade está firmada e temos a certeza do Seu amor o noivo nos convida a fazer parceria com Ele (Ct 2:10-13). Ele desafia a noiva a sair da zona de conforto para leva-la a lugares mais altos com Ele.

Essa é uma postura de coração, onde dependeremos mais dele e nossa fé crescerá, onde alcançaremos um padrão mais elevado de maturidade espiritual.

Mas, a noiva dá uma resposta negativa ao Senhor (Ct 2:17) – ela diz: vá você, enquanto te espero aqui nesse lugar confortável. Volte para perto de mim amado!

Enquanto ela mantém sua própria vontade e o controle de suas possessões, tem de se contentar em viver de seus próprios recursos; ela não pode reivindicar os Dele. [...] O REAL SEGREDO DE UMA VIDA INSATISFEITA ESTÁ, MUITO FREQUENTEMENTE, EM UMA VONTADE NÃO RENDIDA. (Hudson Taylor – GRIFO NOSSO)

Então, ela experimenta a disciplina em amor de Jesus. Porque ele tem compromisso com a maturidade da noiva! A disciplina não é uma forma de rejeição do noivo pela noiva, mas é uma forma de mostrar o quanto Ele a ama para deixa-la naquele nível de relacionamento (Ct 3:1-4).

Percebe que a disciplina é a ausência Dele? Como Ele sabe que a noiva não suportará viver sem sua presença – porque nesse nível ela já experimentou tanto Dele que realmente não terá forças de viver sem Ele – então Ele se ausenta, para que ela obedeça e vá encontra-lo.

Fr. Pedro de Paulo di Bernardino traz uma importante ressalva sobre os efeitos das disciplinas espirituais sobre nosso eu interior: A ascese da mortificação e da penitência é importante para libertar a alma e o coração das dependências que os ligam às realidades terrenas como se não se pudesse passar sem elas. Muitas vezes são coisas pequenas, mas que impedem voar livremente para Deus.[8]

Ela encontra quem ela ama quando sai do lugar de conforto. O noivo a havia chamado para as montanhas, e no texto mostra que ela vai até a cidade (Ct 3:1-4) e tem um contato novamente com o noivo. Ela está respondendo, mas ainda está em sua zona de conforto. Ela ainda tem reservas, e não entregou tudo por imaturidade.

Que nossa oração e disposição de coração sejam semelhantes aos de Elizabete da Trindade: ...que o mundo não me impeça de ir a Ele, que as futilidades dessa terra não me ocupem, que eu não me apegue a elas!

6.      Os elogios do noivo (Ct 4:1-5)

Nessa sequência de versículos o noivo começa a descrever a beleza dela em oito atributos de caráter. E todas essas comparações (coerentes com o padrão de beleza daquele contexto) para dizer: você já me agrada! Mesmo que os passos foram pequenos e avanço não foi total, já estou orgulhoso de você!

E mais uma vez baseado nesse perfeito amor que nos constrange, a noiva responde de forma completa e se dispõe sem reservas (Ct 4:6).

A noiva temerosa não pode se desfazer não pode se desfazer totalmente de seus receios; mas a falta de paz e o anelo tornam-se insuportáveis, e ela resolve render-se totalmente, e ai poderá segui-lo integralmente. Ela submeterá todo o seu ser a Ele, coração e força, influência e possessões. Nada pode ser tão insuportável quanto a Sua ausência! Se Ele a guiar para outro Moriá, ou até mesmo a um calvário, ela o seguirá. [...] Quando o coração se submete, então Jesus reina. E quando Jesus reina, HÁ DESCANSO!! (Hudson Taylor)

7.      A resposta da Noiva

Na continuação do texto percebemos que o convite de parceria permanece e a exaltação dos frutos produzidos por sua amada dissipa todo medo do porvir, então a noiva declara: Levante-se, vento sul! Soprem em meu jardim e espalhem sua fragrância por toda parte. Entre em seu jardim, meu amor, e saboreie os melhores frutos. (Ct 4:16)

Após essa declaração Ele se apropria dela (Ct 5:1) e logo em seguida vem o momento de provação (Ct 5:2), o noivo a convida para participar de seus sofrimentos. Ele está perguntando: “Você vai passar comigo por isso? Quando as coisas não estiverem dando certo, você vai continuar sendo meu jardim particular?”.

Essa é a beleza do nosso rei, Ele deseja que adentremos nesse lugar de sofrimento, porque ele sabe o que isso vai produzir em nós! Como disse Peterson[9] a oração no Espírito Santo é quando Cristo ora em nós! O lugar do sofrimento, onde participaremos das aflições de Cristo começa no lugar de oração, é ali, como diz Peterson que seremos afetados.

John Hyde[10] foi um intercessor, que participou das aflições de Cristo. O apelo dele para sua geração foi por agonia, lágrimas e fervor. Esse é o caminho que a noiva do Senhor precisa trilhar.

Michael Duque Estrada em seu livro Cultura de Oração[11] traz uma visão do coração de Deus, como uma chaga aberta. Uma ferida não curada, exposta nas mazelas desse mundo – é a mulher violentada, a criança abusada e a infância vendida. Esses são os lugares onde o amado de nossas almas está, e Ele nos convida a estarmos em parceria com Ele.

Sobre os frutos sofrimento e martírio, Ariadna Oliveira[12] ressalta:

O silêncio de um cristão obediente não significa o seu fim, nem mesmo o último ato nutrido por uma frustração ou desesperança, mas uma porta escancarada que põe termino a uma espera! [...] Enquanto nossa visão opaca e limitada afirma ser isso insano, o silêncio oferecido a Deus em obediência, a morte interior e a renúncia do eu formam a mais legítima oração que com poder rasgam o temporal e gera, lá na eternidade, um silêncio ainda maior (Ap. 8:1-4).

O caminho de maturidade da noiva, a resposta, mesmo que tardia em participar dos sofrimentos de Cristo (Ct 5:7), o testemunho dela ante ao restante do corpo (Mulheres de Jerusalém) a respeito de quem é esse amado e o que ele tem de tão especial, a fazem se tornar irresistível ao noivo e Ele já não pode negar-lhe mais nada (Ct 56:5).

Estar em parceria fala de comunicar ao restante do corpo aquilo que está no coração do noivo (e no coração de Deus). Bob Sorge usa a expressão manifestar a voz para essa definição.

Manifestar a voz exige a solidão e abandono do deserto. Deus levará alguns de seus servos para o deserto a fim de prepara-los com uma mensagem [...] Para receber essa mensagem, porém, é preciso um grau incomum de consagração aos propósitos de Deus enquanto ele os guia ao deserto. [...] Deserto é, por definição, um lugar habitado por pouca gente, sobretudo porque as condições não são propícias para o modo de vida diário da maioria das pessoas. Trata-se, portanto, de um lugar de solidão, de confinamento imposto, sem NENHUMA COMODIDADE, um lugar de ostracismo, onde o ambiente é inóspito. É o lugar em que Deus se encontra com seu servo ou sua serva. É a reunião de apenas duas pessoas para se realizar uma profunda formação espiritual. É ONDE DEUS DÁ À PESSOA UMA MENSAGEM FORMADA COM BASE NA VIDA DELA, e não em sua biblioteca.

Por fim ela sobe vencida do deserto, recostada sobre seu amado. Ela está em parceria com Ele! O noivo responde ao pedido dela por exclusividade: “Eu vou colocar meu amor como um selo de fogo! Ela é minha! Exclusivamente minha!” (Ct 8:6).

E assim, a beleza do noivo será vista na noiva. (Hudson Taylor)

 

P.S.: Um coração apaixonado e totalmente envolvido produz poesias como a de George Matheson:

Torna-me um cativo, Senhor,

E, então, livre serei,

Força-me a render minha espada,

E conquistador serei. [...]

Minha vontade não é minha própria,

Até que a tornes Tua;

Se ela subisse ao trono de um monarca,

Ela teria de resignar a sua coroa.

Minha vontade só fica firme, em meio à estrondosa luta, quanto em Teu peito se apóia e descobre sua vida em Ti.

 

Só um coração rendido e saudado, consegue admitir como Agostinho, que tarde amou o Senhor. Todos os dias, horas, minutos são insuficientes e reconhecemos que poderíamos amá-lo mais e por mais tempo! Todavia, Ele vê o nosso fraco ser e nos espera todos os dias com a mesma intensidade de se revelar e nos amar!

 



[1] A estilística literária dos hebreus tem uma característica peculiar de colocar no centro do texto (narrativa / poema..) aquilo que é o principal. É sabido que o cânon bíblico foi organizado bem depois e em um contexto cultural diferente da cosmovisão judaica, mas acredito em uma divina providencia de preservação também da estilística. Todo o texto quanto contexto e estilo literário foram inspirados por Deus.

[2] Te convido, leitor, a estar com sua bíblia aberta no livro de Cantares, durante toda a leitura.

[3] Fundador e pastor da International House of prayer – conhecida mundialmente como IHOP / no Brasil FHOP.

[4] Baseado em uma das aulas ministrada pela Blaire Fraim, na Escola de Verão da FHOP – Floripa-Brasil.

[5] Versão: ACF – Almeida Corrigida e Fiel.

[6] Cântico dos Cânticos – Editora dos Clássicos.

[7] Versão: NVT – Nova Versão Transformadora.

[8] Ressalto a penitencia com conotação de abster-se de coisas que nos dão prazer. A palavra penitência no contexto monástico está relacionada não somente com castigos físicos, mas principalmente ao jejum.

[9] Peterson sobre a vida de oração de John Hyde – livreto da editora Impacto.

[10] Seus biógrafos afirmam que Hyde morreu com o coração deslocado (do lugar normal) de tanto orar e agonizar pelos perdidos.

[11] Editora Impacto

[12] De volta para casa – editora Impacto