sexta-feira, 8 de abril de 2022

Sobrenatural - Anjos e Demônios

 

O qual é imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; Porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades. Tudo foi criado por ele e para ele. E ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por ele. E ele é a cabeça do corpo, da igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência. Porque foi do agrado do Pai que toda a plenitude nele habitasse,

(Colossenses 1:15-19)



Um dos pontos dentro do imaginário cristão que mais geraram mitos e diferentes teologias diz respeito ao surgimento e aparência dos anjos e demônios. Normalmente esses mitos recebem modificações nas diferentes gerações e localidades que o abarcam. Ao mesmo tempo que observamos os espantalhos criados em cima dessas duas categorias de seres celestiais, não podemos ignorar a menção dos mesmos nos relatos bíblicos. E dentro dessa perspectiva precisamos nos questionar, como faz Michael Heiser no prefácio de seu livro “Sobrenatural”: “Você realmente acredita no que a Bíblia diz?”.  

O que são os anjos? Suas características físicas se assemelham às obras de arte renascentistas, semelhantes a bebês alados, brancos de olhos azuis? E os demônios, o que são e como surgiram? Estão na mesma categoria dos anjos? O que a Bíblia tem a nos dizer a esse respeito?

O que aconteceu no Éden?

O Éden era a casa de Deus. Era o local de intercessão entre céu e terra. E sendo a casa de Deus, esse jardim era habitado por toda sua família – seres celestiais e humanidade (quando foi criada). Dentre os seres celestiais temos os Querubins / Serafins – serpentes aladas flamejantes – que vivem diante do trono de Deus. Esses seres são responsáveis pela guarda da presença de Deus, temos a descrição deles em Ezequiel 1 e Apocalipse 4 (Seres viventes).

Éden também era o lar de Deus. Ezequiel se refere ao Éden como “o jardim de Deus” (Ezequiel 28:13; 31:8-9). Isso não me surpreende, de jeito nenhum. O que talvez seja surpreendente é saber que, logo após chamar o Éden de “jardim de Deus,” Ezequiel o chama de “montanha santa de Deus” (28:14). (Michael Heiser)

Essa linguagem era perfeitamente entendida pelo imaginário do Antigo Oriente Próximo, a maior parte dos povos tanto daquela região como os da região da América vão construir “montanhas” para se relacionarem com o divino. Essas montanhas eram chamadas de “Zigurates”, uma espécie de pirâmides. Uma tentativa de trazer o céu para a terra, novamente[1].

Quando Deus cria o homem e a mulher, ele compartilha essa notícia com o restante de sua família, todavia, parte dela não concorda com os planos do Criador, então acontece uma quebra na unidade celestial. Um dos Querubins da guarda de Deus age de modo independente e seduz a humanidade a viver também dessa forma.

O Conselho Divino

Desde o princípio, Deus escolheu compartilhar sua natureza e governo. Ele escolheu viver em família. É fato que constatamos isso ao afirmarmos que Deus é Pai, Filho e Espírito; todavia, a família de Deus, além do próprio Deus, é também composta por Seres Celestiais. Quando a humanidade foi criada, diversos Seres Celestiais já existiam e governavam a criação juntamente com o Senhor.

Há diversas passagens bíblicas que se referem a esse Conselho Divino. Normalmente são referidos como “Filhos de Deus” ou “deuses”. Na Bíblia hebraica a palavra para deuses é “elohim”, muitos cristãos acham que esse é um nome de Deus, mas essa é a forma plural para se referir a qualquer espírito ou corpo celeste – sejam demônios, alma de seres humanos após a morte e até mesmo o próprio Deus. Eles também podem ser identificados como “Exército dos céus”, que recebiam a adoração das nações que não conheciam ao Senhor, e em alguns momentos da história receberam a adoração também do povo de Israel (Deuteronômio 29:26 e 32:17).

Deus preside a assembleia dos céus; no meio dos seres celestiais, anuncia seu julgamento: [...]Eu digo: ‘Vocês são deuses, são todos filhos do Altíssimo. Morrerão, porém, como simples mortais e cairão como qualquer governante’". Levanta-te, ó Deus, e julga a terra, pois todas as nações te pertencem.

(Salmos 82:1, 6-8)

Os deuses do Salmo 82:1 são chamados de “filhos do Altíssimo [Deus]” no versículo posterior (v.6). Os “filhos de Deus” aparecem várias vezes na Bíblia, geralmente na presença de Deus (como em Jó 1:6, 2:1). […] Os filhos de Deus também são responsáveis por decisões. Aprendemos em 1 Reis 22 (como em muitas outras passagens) que o negócio de Deus incluía interação com a história humana. (Michael Heiser)

Esses seres celestiais que compõem o Conselho Divino se rebelaram contra o Senhor, e conforme vemos no relato bíblico vão direcionar a humanidade também nesse caminho de rebelião. É o que acontece em Babel (Gn 11). O episódio de Babel é o momento em que Deus deixa que as nações vivam de modo independente, longe de seus preceitos e de Sua presença. Deus abre mão temporariamente de seu plano original – expansão do Éden por toda terra e governo sobre todas as nações. Parece estranho ler isso, mas é exatamente isso que o texto bíblico diz (Deuteronômio 32:8[2]).

O Salmo 82 mostra que os Seres Celestiais designados para governar as nações praticaram injustiças e não observaram os preceitos de Deus, portanto estão condenados a perderem sua imortalidade. Judas relata, no versículo 8 de sua carta, que alguns Anjos “não se limitaram à autoridade recebida” e estão acorrentados até o dia do julgamento.

 

Anjos e Demônios

O significado da palavra Anjo, na Bíblia, é mensageiro. O que vemos nos relatos do Antigo e Novo Testamento (Gn 18 e 19 / Lucas 1) é que eles tem uma aparência humana, mas algo de celestial, pois os que tiveram experiência com esses seres os identificavam como mensageiros de Deus. Não há nenhuma descrição de asas e afins. Há também uma expressão muito interessante no Antigo Testamento, o “Anjo do Senhor”, é possível afirmar – pelas características e descrições de cada texto – que trata-se do próprio Deus em forma humana, os teólogos chamam isso de “Teofania”.

Os demônios são seres diferentes, G. H Pember os define como “seres desencarnados”, ou seja, não possuem corpo. A tradição hebraica entende que os demônios são espíritos dos Nefilim (Gn 6)[3], a alma dos filhos que alguns Anjos (Filhos de Deus) tiveram com as “filhas dos homens”. Michael Heiser afirma:

Demônios são espíritos defuntos dos nefilim que morreram antes e durante o Dilúvio. Eles perambulam pela terra atordoando os homens, em busca de reincorporação. [...] A Bíblia não diz, em Gênesis, muito mais a respeito do que aconteceu, mas fragmentos desta história se revelam em outras partes da Bíblia, bem como em tradições judaicas não incluídas na Bíblia que os autores do Novo Testamento conheciam bem e, inclusive, citaram em seus escritos. Por exemplo, Pedro e Judas descrevem os anjos que pecaram antes do Dilúvio (2 Pedro 2:4-6 ARC95; leia também Judas 5-6). Algumas das suas citações provêm da literatura judaica que não foi incluída na Bíblia. Pedro e Judas dizem que os filhos de Deus que cometeram esta transgressão foram presos debaixo da terra—ou seja, estão pagando sentença no inferno—até os últimos dias.

 

Conclusão

É importante sabermos essas diferenças, em relação aos Seres Celestiais, tanto para melhor entender e explicar o texto bíblico, como também para crer corretamente e não desejar experiências que misturem essas categorias. Portanto, Anjo é diferente de Serafim, os que vão ultrapassar a esfera celeste para a humana são os primeiros. Ezequiel, Daniel e João viram o Trono de Deus, por isso viram também os Seres que habitam na presença de Deus.

Normalmente nos aproximamos desses estudos com o intuito curioso de saber mais. Desejar ver anjos mais do que conhecer a Cristo, por meio de sua palavra, é um erro. No meio cristão as experiências sobrenaturais mais visadas ou consideradas “fortes” é ver anjos e demônios, todavia, a experiência que fortalece e edifica nossa fé é conhecer a Jesus. Ter mais revelação – luz e olhos para ver – da pessoa de Jesus. Conhecê-Lo é ter mais de Seu caráter em nosso próprio caráter. Refletir mais a glória de Deus.

 



[1] Se você deseja saber um pouco mais sobre o assunto leia: Os outros da Bíblia – André Reinke.

[2] “Quando o Altíssimo distribuiu a terra entre as nações, quando dividiu a humanidade, fixou o limite dos povos, de acordo com o número dos filhos de Deus (o número dos anjos)”. (Versão dos Manuscritos do Mar Morto e Septuaginta, respectivamente)

[3] Há teólogos e exegetas que interpretam esses “Filhos de Deus” como a linhagem de Sete, e “As filhas dos homens” sendo a linhagem de Caim, e os filhos gerados a partir dessa mistura, teriam sido grandes heróis da antiguidade – homens de grande fama e poderosos socialmente. 











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