A Páscoa é uma das festas
judaicas que rememora de modo completo todo o Plano de Redenção do Senhor para
a humanidade. O livro de Êxodo, em forma simbólica e nacional, contém todo o
desenrolar desse plano de Deus, de salvar e restaurar todas as coisas. Podemos
ver (a partir da leitura do livro) tudo acontecendo de modo micro, por meio do
povo de Israel e o cordeiro pascal sendo imolado para salvação dos
primogênitos. E “logo em seguida”, nos dias de Jesus, vemos o cumprimento em proporção
macro, a humanidade sendo redimida por meio do sacrifício do Cordeiro perfeito.
Além do ponto da redenção, também observamos o viés escatológico presente na
Páscoa e no Êxodo. Todas as etapas de juízo, redenção, livramento do povo de
Deus, tabernaculação e ressurreição estão presentes na celebração da páscoa.
É claro que essa visão completa
só nos é permitida por meio de Jesus. Não podemos cair no anacronismo de
afirmar que os primeiros israelitas, que celebraram a Páscoa, enxergaram o
quadro completo da história da redenção. Mas, podemos perceber a tipologia
presente em todos os elementos dessa celebração, como também no enredo da
peregrinação pelo deserto até a chegada na Terra prometida.
O contexto em que a celebração da
Páscoa foi instituído por Deus, através de Moisés, era de transição. O período
em que Deus derramaria a última das dez pragas sobre o Egito, a morte dos
primogênitos. O coração de Faraó estava endurecido, mesmo após todos os juízos
já derramados. Uma nação às portas da liberdade, mas aprisionados pela
mentalidade de 400 anos de cativeiro. A semente de Abraão, o povo da promessa,
presenciando todas as maravilhas do braço forte e soberano do Senhor movendo em
favor de Seu nome. O pacto da graça estava se desenrolando.
O Cordeiro pascal – Deus protege seu povo
No dia seguinte João
viu a Jesus, que vinha para ele, e disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o
pecado do mundo.
João 1:29
Há um aspecto interessante em
Êxodo 6:6-7[1], o
verbo traduzido com “adquirir” ou “resgatar” aponta para uma transação
comercial, o comprador paga o preço para se tornar dono daquilo que foi
adquirido. É isso que acontece na Páscoa, Deus paga o preço (o Cordeiro) para
adquirir Israel, seu primogênito. Isso coloca Deus em uma posição mais ativa da
história. Ele poupa os primogênitos daqueles lares israelitas, por meio do
cordeiro. E mais tarde ele derrama seu próprio juízo em si mesmo, pagando o
preço por sua Igreja, composta por judeus e gentios (o verdadeiro Israel de
Deus).
É claro que vamos ver a exortação
e o juízo de Deus começando por sua casa (Israel e Igreja), mas são situações
diferentes. Podemos observar isso por meio do profetismo no antigo Israel, em
tempos de idolatria e corrupção os profetas relembravam o povo a respeito da
Aliança no Sinai e os chamava ao arrependimento. Caso não houvesse uma resposta
positiva, as consequências eram inevitáveis (cerco, morte e exílio). O mesmo
observamos no livro de Apocalipse, os capítulos 2 e 3 apresentam exortações
severas à Igreja do Senhor. É uma oportunidade de lembrarmos onde caímos e
voltarmos a amar ao Senhor.
No Dia do Senhor, e os anos que
precederão seu retorno, Deus fará separação entre a Igreja e aqueles que
rejeitaram o Cordeiro. O juízo virá sobre a terra, mas como no Egito, Deus fará
separação entre os justos e injustos.
O Juízo sobre os incrédulos
Um dos aspectos que muitas vezes
nos passa despercebido, quando lemos o livro de Êxodo e a narrativa da primeira
Páscoa, é seu viés escatológico. Dan Juster, em seu livro “Páscoa”[2]
mostra o paralelo presente entre o livro de Apocalipse e o livro de Êxodo. As
pragas, quando são colocadas de modo paralelo às Trombetas, mostram-se muito
semelhantes. Como também, a separação feita entre os que creem no Cordeiro e os
que não creem (Êxodo 8:22-23 / Apocalipse 7:3).
Deus derramou juízo sobre aqueles
que se recusaram a crer no sangue do cordeiro pascal. Jesus veio e recebeu a
ira de Deus na cruz, em favor de todos aqueles que creem. A ira de Deus foi
derramada sobre o Servo sofredor, para que por meio dele tivéssemos vida. Ele
abriu um novo e vivo caminho para o Pai, e assim podemos ter paz com Deus.
Todavia, em sua segunda vinda, o juízo será derramado sobre aqueles que se
recusaram a crer.
A ressurreição dos Mortos
“Somente onde há sepulturas, há
ressurreição.” (Karl Barth parafraseando Nietzsche)
Um ponto novo que a Páscoa
apresenta, por meio de Jesus, é a vitória sobre a morte. A salvação em Jesus é
apresentada de modo completo. A ressurreição de Jesus mostra à seus discípulos
que mesmo que seus corpos sejam queimados, torturados, crucificados e
enterrados, um corpo de glória, completamente incorruptível, os espera. Jesus
foi o primogênito na ressurreição, e todos aqueles que creem terão o mesmo fim.
Essa é a esperança da nossa salvação.
Onde está, ó morte, o
teu aguilhão? Onde está, ó inferno, a tua vitória?
(1 Coríntios 15:55)
Porque, se cremos que
Jesus morreu e ressuscitou, assim também aos que em Jesus dormem, Deus os
tornará a trazer com ele.
(1 Tessalonicenses
4:14)
Esse aspecto escatológico da
ressurreição é maravilhoso e fundamental para o fortalecimento de nossa fé e
espera. Todavia, viver uma vida ressurreta é tão importante quanto. Eugene
Peterson em seu livro “Vivendo a ressurreição[3]”
nos apresenta esse importante detalhe a respeito da ressurreição dos mortos.
Participar da mesa, saboreando a comida, viver o shabbat, trabalhando e
descansando, são realidades de quem experimentou Jesus e sua ressurreição.
Estamos aqui para dar
testemunho sobre a fonte da vida, para falar como ela se desenvolve e como
fazemos para ingressar nela. E protestaremos quando observarmos que nossa
linguagem e forma de perceber a vida estão se desligando do Deus vivo, entrando
num processo de degeneração ou desintegração que as transforma em conversa
sobre Deus, em conversa sem vida. [...] Participamos da vida e é dela que
testemunhamos, mas estamos cercados pela morte, que nos ameaça.
(Eugene Peterson)
Conclusão
A páscoa revela o coração de Deus ao mundo. A ordem do Senhor ao povo
de Israel de observar a Páscoa como memorial perpétuo demonstra seu desejo de
garantir que seu povo continue a contar sua história de redenção às gerações
futuras. Atualmente, Deus está usando a igreja composta de seguidores judeus e
gentios de Jesus, “um novo homem” (Ef 2:15), para contar essa mesma história.
(Cathy Wilson[4])
Sou cristã de tradição evangélica,
não seguimos um calendário litúrgico, nem temos muitos símbolos físicos para nos
fazer lembrar de nossa fé. Todavia, a história da Igreja, com sua diversidade
de tradições nos dá meios criativos para cumprirmos Deuteronômio 6:7. Celebrar
é fazer memória, é ensinar para si mesmo, para seus filhos e netos. Por mais
que o secularismo e o mercado tentem nos fazer perder o foco, é necessário
contar histórias, e reconta-las todos os anos. Para que Cristo sempre tenha preeminência.
[1] Capítulo
de Robert Walter – O Messias na Páscoa. / Portanto dize aos filhos de Israel:
Eu sou o Senhor, e vos tirarei de debaixo das cargas dos egípcios, e vos
livrarei da servidão, e vos resgatarei com braço estendido e com grandes
juízos. E eu vos tomarei por meu povo, e serei vosso Deus; e sabereis que eu
sou o Senhor vosso Deus, que vos tiro de debaixo das cargas dos egípcios; (Êxodo
6:6,7)
[2]
Disponível pela editora Impacto publicações.
[3]
Disponível pela editora Mundo Cristão.
[4] O
Messias na Páscoa – Darrell L. Bock e Mitch Glaser
Amém!! Glória a Deus!!🙏🙏
ResponderExcluir**E ELE Vive!** JESUS, meu Amor Maior! Glória à DEUS!
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