Sem dúvida, há diversos idiomas no mundo;
todavia, nenhum deles é sem sentido.
Portanto, se eu não entender o
significado do que alguém está falando, serei estrangeiro para quem fala, e
ele, estrangeiro para mim.
(1 Coríntios 14:10-11)
Há entre os teólogos um
entendimento diverso a respeito do dom de línguas, apresentado pelo apóstolo
Paulo[1],
como sendo um dos dons dado pelo Espírito Santo de Deus. Entre os
entendimentos, há aqueles que entendem que o dom de línguas trata-se da habilidade
de aprender línguas humanas, enquanto que outra parte inclui a língua dos anjos
e o falar diretamente com Deus. Entre os muitos artigos e livros sobre a
temática, também é discutido o objetivo e propósito desse dom. Todavia, o foco
desse texto será a respeito da aprendizagem de novas línguas, humanas, diga-se
de passagem.
Desde o ano de 2019,
após meu treinamento em linguística, tenho trilhado essa estrada do aprendizado
de novas línguas. Até o momento em que esse texto está sendo escrito, me
encontro no aprendizado de minha quarta língua. Poderia afirmar que é um dom do
Espírito de Deus? Acredito que sim. Mas, para te falar a verdade querido(a)
leitor(a), eu não tinha a mínima ideia desse dom ou habilidade antes de 2019. Foi
mesmo a necessidade ao responder o chamado de Deus que me fez descobrir esse
dom.
Confesso que me sinto
iniciante, comparando minha experiência à de outras pessoas que dedicaram suas
vidas a essa paixão ou mesmo habilidade. Mas, espero que essas singelas
impressões a seguir contribuam para sua perspectiva pessoal e quem sabe te
incentive a aprender uma nova língua.
Língua
e cosmovisão
Um dos filmes mais
assistidos pelos linguistas[2] é
a obra “A chegada” de Denis Villeneuve. O enredo do filme é basicamente a
chegada de habitantes de outro planeta na terra, eles posicionam suas naves nas
principais cidades da terra e aguardam por contato. Os governos mundiais
acionam suas forças militares e seus melhores especialistas em línguas para
saberem o que esses seres desejam. Entre a equipe norte americana estava uma
linguista, Dra. Lousie Banks, interpretada por Amy Adams. Ela consegue decifrar
a linguagem desses visitantes e se comunicar com eles.
Um ponto interessante
no processo da aquisição dessa língua extraterrestre é o que acontece com a
personagem, ela passa a ver o mundo conforme esses seres. A língua de modo
geral está conectada com a forma que um povo vê o mundo, sua cosmovisão.
Portanto, suas concepções de tempo, valores, religião e prioridades estão
marcados na língua. Coisa linda, não é mesmo!? Esses visitantes que chegam na
terra possuíam uma visão peculiar do tempo, passado, presente e futuro estão
interligados de maneira que são parte de uma coisa só. Esse fenômeno acontece
com a personagem de Amy Adams, ela começa a ter vislumbres do futuro, pois
adquiriu a língua dos visitantes.
Essa é uma ilustração
interessante do processo de aquisição de uma língua. Seus horizontes e
perspectivas são ampliados, você passa a conhecer e a apreciar coisas que antes
não tinham nenhum valor e sentido para você. A aquisição de língua te ensina a
respeitar a perspectiva do outro, e o processo árduo e lento podem te levar ao
quebrantamento e humildade.
Babel,
benção ou maldição?
E
disse o Senhor: "Eles são um só povo e falam uma só língua, e começaram a
construir isso. Em breve nada poderá impedir o que planejam fazer. Venham,
desçamos e confundamos a língua que falam, para que não entendam mais uns aos
outros". Assim o Senhor os dispersou dali por toda a terra, e pararam de
construir a cidade. Por isso foi chamada Babel, porque ali o Senhor confundiu a
língua de todo o mundo. Dali o Senhor os espalhou por toda a terra.
(Gênesis
11:6-9 NVI)
Um dos problemas que nos deparamos ao lidarmos com os juízos de Deus é a dificuldade de enxergar a
beleza de tudo isso. O contexto de Babel é de desobediência à ordem dada por
Deus. Logo após a saída da arca, Deus havia ordenado: “Espalhem-se”, e de
maneira contrária eles responderam: “Não vamos nos espalhar!”. Deus intervém na
rebeldia humana salvando-os de sua própria destruição.
Ao fazer isso Deus age
novamente de modo criativo e inteligente. Ele desenvolve um meio de guardar
saberes e habilidades, sem que esses mesmos pudessem levar a humanidade a um
novo processo de destruição e consequentemente, juízo. A intervenção divina,
por meio das barreiras linguísticas foi uma maneira de guardar a humanidade
para a plenitude dos tempos, para a vinda do Messias. Como também foi um modo
de expressar a diversidade trinitária em mais um aspecto da humanidade.
Outro ponto
interessante a se observar é que essas barreiras linguísticas seriam
desenvolvidas, de um modo ou de outro. A ordem dada inicialmente por Deus, se
obedecida, traria, com o passar do tempo, o desenvolvimento de novos dialetos,
e possivelmente novas línguas. Portanto, o que vemos nessa intervenção mais
direta é simplesmente a vontade soberana de Deus sendo cumprida e estabelecida.
Uma
perspectiva trinitária
Um dos pontos
interessantes que podemos observar no ser trinitário de Deus é unidade na
diversidade. Três pessoas distintas unidas em um só Deus. A humanidade foi
dividida em grupos étnico-linguísticos e através da Trindade, na pessoa do
Espírito Santo, foi reconciliada em um único corpo, a Igreja. Tanto na igreja
primitiva, expressa no relato de Atos dos Apóstolos, quanto diante do Trono de
Deus essa diversidade linguística e étnica será preservada. Seremos apenas um
povo, mas ricos em línguas e expressões culturais.
Em Deus não teremos
barreiras linguísticas ou culturais, mas ao mesmos tempo usaremos nossos
artefatos culturais e linguísticos para louvá-lo e glorifica-lo. Nossa adoração
será plural, rica e bela, pois teremos povos de todas as etnias e grupos
linguísticos adorando Aquele que se assenta no Trono do universo. Essa cena foi
vista pelo apóstolo João (Apocalipse 7), e tem sido uma realidade à cada novo
crente que se torna parte da família de Deus, à cada Bíblia traduzida e a cada
igreja plantada nos lugares mais distantes da terra.
Da mesma forma que Deus
repartiu com os membros do Corpo de Cristo, diversidades de dons e talentos,
Ele também repartiu a beleza de Seu próprio ser nas línguas e culturas da
terra. Não estou desconsiderando aqui as consequências da queda e do pecado.
Todavia, quero afirmar que da mesma forma que o pecado teve consequências
cósmicas e transcendentes, a restauração de todas as coisas que está por vir,
será também cósmica e completa. Línguas e culturas serão usadas para a
restauração da terra e glorificação do nome de Deus.
[1] I
Coríntios 12
[2]
Tive contato com essa produção durante o Curso de Linguística e Missiologia
(CLM), oferecido pela missão ALEM em Brasília.
Que lindo!!Glória a Deus!!!🔥🔥🔥
ResponderExcluirMuito forte! Muito esclarecedor. Muito edificante. Gratidão sempre May! Glória à DEUS.
ResponderExcluirObrigada tia Dalva, a sra. faz parte da minha trajetória.
ExcluirMuito bom. Vá nesta tua força missionária Mayara 🙏
ResponderExcluir