terça-feira, 31 de outubro de 2023

Pontos positivos e negativos da Reforma Protestante



Alguns povos confiam em carros de guerra, 
outros, em cavalos, mas nós confiamos 
no nome do SENHOR, nosso Deus.
(Salmo 20:7)


Édouard Debat Ponsan

Falar de Reforma Protestante é falar das várias mudanças que o mundo Ocidental sofreu. Temos um movimento que literalmente abalou a estrutura econômica, social e religiosa de muitos países da Europa e deram origem a novos países como a Nova Inglaterra (Estados Unidos da América). Muitos benefícios são inegáveis e devemos menciona-los aqui, como a invenção de Johannes Gutenberg que revolucionou os meios de produção e distribuição de livros. A prensa de Gutenberg foi fundamental na difusão da Bíblia no alemão e posteriormente para outras línguas.

Outro ponto positivo importante foi a consolidação e enriquecimento da língua alemã, por meio da tradução da Bíblia no alemão liderada por Martinho Lutero. João Calvino teve grande influência religiosa e política em Genebra, contribuindo para uma valorização moral do trabalho e a prática da poupança (acúmulo de capital) como caminho para o enriquecimento.

Além de todas essas mudanças sociais, a Igreja precisava voltar a olhar para Jesus através das escrituras. Sua liderança estava corrompida pela sede de poder e riquezas, enquanto os fiéis pereciam por falta de conhecimento e compaixão. Os escritos dos reformadores e reformadoras foram de suma importância para que houvesse luz na escuridão que a população da época estava imergida. Escuridão esta, que o iluminismo e o humanismo contribuíram para disseminar.

Mesmo ante a todos os benefícios citados a cima é valido ressaltar por meio do famoso jargão popular: “Nem tudo são flores!”. Esses mesmos santos que foram usados para trazer luz à escuridão, também contribuíram para a disseminação do ódio e o desencadear de muitas guerras dentro da própria cristandade. Os nossos heróis tinham pés de barro, às vezes eram santos e outras vezes opressores[1].  

 

Revoltas, perseguições e Antissemitismo

A Revolta dos camponeses na Alemanha, entre 1524-1525, é um exemplo de como os escritos de Lutero motivaram camponeses a entrarem em guerra contra seus príncipes. A questão é que foi um verdadeiro massacre, posto que, tratavam-se de camponeses completamente despreparados para um confronto militar contra uma parcela rica da população que possuíam seus próprios exércitos. A atuação de Lutero aqui foi considerada nebulosa, tendo em vista que seus escritos pendiam para os dois lados do conflito[2].

Outro ponto controverso a ser ressaltado na vida desse mesmo reformador, foi mais um de seus escritos, este concluído no final de sua vida: Sobre os judeus e suas mentiras[3]. Essa triste obra de Lutero contém severas críticas ao judeus e infelizmente influenciou outros teólogos[4] que mais tarde defenderam abertamente ao nazismo. Esses eram os pés de barro do nosso tão aclamado reformador alemão. É fato que Lutero sempre trabalhou e orou pela conversão dos judeus, todavia, não há dúvidas de que essa sua obra foi um erro.

 

Guerras internas e mais divisões

Como bem afirmou o ministro Marcondes Soares, não era o intuito de Lutero que a Igreja do Senhor Jesus Cristo se dividisse em 30 mil denominações diferentes. Não estavam nos planos do reformador nem mesmo desligar-se da Igreja Católica Romana, mas sim que houvessem mudanças no ensino e um retorno às escrituras.

Os anos que sucederam à Reforma foram de muitas guerras e perseguições de católicos contra luteranos, anglicanos contra católicos, luteranos e anglicanos contra anabatistas e assim muitos outros tipos de disputas religiosas que se misturavam com interesses políticos e econômicos. Noites sangrentas como a noite de São Bartolomeu, também conhecida como o massacre dos huguenotes[5], em 24 de agosto de 1572, que tirou a vida de mais de 5.000 pessoas. O resultando desse massacre foi o exílio de mais de 300.000 franceses huguenotes.

Comunidades como a dos Morávios (seguidores de John Huss), formada por irmãos que foram expulsos da Boémia, foram exemplos de refugiados que foram recebidos em outros países e acolhidos em propriedades como a do Conde Zinzendorf. As guerras e perseguições religiosas perduraram por séculos.

 

Mulher casada como padrão de feminilidade bíblica

Antes da Reforma Protestante as mulheres podiam trilhar caminhos diferentes e viverem para a glória de Deus, podiam escolher diferente e ainda assim serem consideradas piedosas e tementes à Deus. A dra. Barr[6] afirma:

As mulheres sempre foram esposas e mães, mas foi a partir da Reforma Protestante que ser esposa e mãe se tornou o “padrão ideológico de santidade” para as mulheres. Antes da Reforma as mulheres podiam ganhar autoridade espiritual rejeitando sua sexualidade. A virgindade lhes dava autonomia. As mulheres se tornavam freiras e faziam votos religiosos e algumas, como Catarina de Siena e Hidegarda de Bingen, descobriram que suas vozes ressoavam com a autoridade dos homens. Na verdade, quanto mais distantes as mulheres medievais ficavam do estado civil de casada, mais próximas elas ficavam de Deus. Após a Reforma, o oposto tornou-se realidade para as mulheres protestantes. Quanto mais se identificavam como esposas e mães, mais devotas se tornavam.

Infelizmente muitos reformadores não incentivaram as mulheres como pregadoras, teólogas e evangelistas, negando assim o sacerdócio universal de todos os crentes[7]. Mas, apesar de todos esses equívocos tivemos mulheres que foram fundamentais durante o período da Reforma Protestante, como Margarida de Navarra, Marie Dentière, Catarina Zell e muitas outras. Mulheres que propagaram a salvação pela graça mediante a fé, que usaram seu poder e riquezas para proteger irmãos anabatistas e protestantes de diversas nacionalidades.

 

Conclusão

O que a Reforma Protestante nos ensinou? Como também os avivamentos na história da Igreja? Que homens e mulheres são apenas homens e mulheres, todos sujeitos a erros e limitações. Tanto a narrativa bíblica como a história da Igreja nos reforçam que não somos os personagens principais da história da redenção. Somos vasos de barro que carregam a excelência do poder, que é o próprio Deus. Nossos heróis e heroínas são e vão continuar sendo de extrema importância para o fortalecimento de nossa fé, vamos aprender com eles, com seus erros e acertos, olhando sempre para Cristo, o autor e consumador da nossa fé.

Pois é olhando para Ele que nunca seremos abalados ou confundidos. É olhando para Ele que teremos a certeza de que Ele é! Nele colocaremos nossa confiança e esperança! Não a nós, SENHOR, não a nós, mas ao teu nome dá glória, por amor da tua misericórdia e da tua fidelidade. Por que diriam as nações: Onde está o Deus deles? No céu está o nosso Deus e tudo faz como lhe agrada. (Salmo 115:1)

 



[1] Opressores e santos: uma análise do bem e do mal na história cristã – John Dickson, editora Thomas Nelson Brasil, 2023.

[2] A guerra dos camponeses: a mediação de Lutero sob discussão – Tarcísio Vanderlinde, revista Alamedas.

[3] Tradado escrito em 1543.

[4] Leia mais no texto: https://mentes-renovadasmay.blogspot.com/2021/04/hegel-teologia-liberal-alema-e-os.html

[5] Nome dado aos protestantes franceses, em sua maioria calvinistas (seguidores de João Calvino).

[6] A construção da feminilidade bíblica – Beth Allison Barr, Thomas Nelson Brasil.

[7] Reformadoras – Rute Salviano. 



Um comentário:

  1. , olhando sempre para Cristo, o autor e consumador da nossa fé.

    Pois é olhando para Ele que nunca seremos abalados ou confundidos. É olhando para Ele que teremos a certeza de que Ele é! Nele colocaremos nossa confiança e esperanç

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