Eu
canto a canção das santas de Deus: Pacientes, constantes em fé e coragem.
Viveram, lutaram, reinaram e serviram, Jesus foi para elas o Mestre e Senhor. E
uma foi sábia, a outra rainha; e algumas, seus nomes, a história ocultou. São
santas, queridas, amadas de Deus, e, Deus permitindo uma delas serei.
(Paráfrase
de Simei Monteiro do hino 712 do hinário Metodista / Fonte: Vozes femininas nos
avivamentos – Rute Salviano)
Há alguns anos atrás
liderei um grupo de meninas em minha igreja. Nos reuníamos para orar juntas e aprender
mais a respeito de Jesus através das escrituras. Durante esse período li muitos
materiais sobre o papel da mulher na Igreja, padrões e expectativas, tanto para
as casadas quanto para as solteiras. Praticamente todo o material que tinha
acesso na época exaltavam as mulheres como mães, filhas, esposas e boas donas
de casa. Era interessante, pois nunca alcancei esse padrão. E fazendo uma
análise daqueles anos até o presente momento, muitas mulheres, amigas e colegas
de ministério não correspondem à essas expectativas.
A realidade é bem diferente
do que muitas vertentes teológicas pregam a respeito do que seria esse padrão
ideal de feminilidade bíblica. Temos muitas mulheres casadas, mas, que não são
mães; mulheres que não tem marido, mas são boas mães; aquelas que não são boas
donas de casa, mas amam e se compadecem do órfão e do necessitado; mulheres que
são divorciadas, mas mantém uma vida santa de amor total ao Senhor. E o que
falar das viúvas que permanecem assim, dedicando seu tempo à evangelização e
cuidado dos novos crentes; das avós que estão no papel de mãe dos netos, e das
solteiras que devotam suas vidas e tempo ao Senhor.
São muitas “exceções”
se queremos afirmar que a regra é casar-se e ter filhos. São muitas pessoas,
importantes na missão de Deus, para as colocarmos em uma categoria de
subalternidade e “maldição”. Se olharmos bem para o texto bíblico,
principalmente os escritos neotestamentários e os registros históricos da
Igreja dos primeiros séculos vamos encontrar um padrão diferente de
feminilidade. Vamos encontrar um padrão diferente até mesmo na tão
estigmatizada Igreja da Idade Média.
As
discípulas de Jesus na Igreja primitiva
Talvez
não prestemos atenção quando lemos os evangelhos, mas é impressionante o número
de vezes em que mulheres são citadas nos relatos evangelísticos. Entre essas
muitas citações temos Jesus conversando em público com muitas delas (João 4:7-29;
Marcos 5:25-34), temos o nome de cinco mulheres, citadas por Mateus, na
genealogia do Messias e muitas que financiaram o ministério de Jesus.
Discípulas que o acompanharam durante seus três anos e meio de ministério,
incluindo sua crucificação (Marcos 15:40-41) e ressureição (Marcos 16:1-2 e 9).
O mesmo acontece nas cartas paulinas, quando o apóstolo agradece seus colaboradores,
muitas mulheres são citadas como obreiras, anfitriãs, diaconisas e mantenedoras
do apóstolo.
Um exercício
interessante que minha colega de estudos teológicos nos recomendou, por meio de
um PodCast[1], é
sublinhar todas as vezes que as mulheres aparecem na narrativa dos evangelhos.
Vamos perceber uma verdade que talvez tenhamos deixado passar nas leituras
anteriores, Jesus tinha discípulas! Muitas mulheres o seguiam e foram
comissionadas a ir e fazer discípulos e discípulas de Jesus, de todas as etnias
da Terra. Uma das biografias mais interessantes, preservada pela tradição
Católica, é a de Maria de Betânia. Segundo essa tradição, Maria e sua irmã
Marta foram missionárias na França. Temos algumas considerações feitas pela
Doutora Beth Allisson Barr[2]:
Desde o século VII,
Marta de Betânia tem sido frequentemente identificada como a irmã de Maria
Madalena — a santa feminina mais conhecida no mundo medieval (perto apenas de
Maria, mãe de Jesus). Só no século XVI Maria Madalena começa a ser separada de
sua identificação medieval como irmã de Marta, a mulher pecadora possuída por
sete demônios e a mulher arrependida com o vaso de alabastro. […] Embora
possamos duvidar da exatidão histórica da viagem missionária de Maria à França,
os cristãos medievais não duvidavam. Como um monge cisterciense escreveu:
“Assim como ela foi escolhida para ser a apóstola da Ressurreição de Cristo e a
profeta de seu mundo [...], ela pregou aos incrédulos e confirmou os crentes em
sua fé”.
Quando
que o casamento tornou-se padrão ideal de feminilidade bíblica?
O casamento e a
maternidade tornaram-se padrões de feminilidade bíblica com a Reforma
Protestante, principalmente por meio de Martinho Lutero. Segundo a historiadora
Beth Allisson Barr, durante a Idade Média haviam outras categorias de serviço
que as mulheres poderiam dedicar-se, um tipo que era considerado superior até
mesmo ao status do casamento e da maternidade.
A virgindade lhes
dava autonomia. As mulheres se tornavam freiras e faziam votos religiosos e
algumas, como Catarina de Siena e Hidelgarda de Bingen, descobriram que suas
vozes ressoavam com a autoridade dos homens. Na verdade, quanto mais distantes
as mulheres medievais ficavam do estado civil de casada, mais próximas elas
ficavam de Deus. Após a Reforma, o oposto tornou-se realidade para as mulheres
protestantes. Quanto mais se identificavam como esposas e mães, mas devotas se
tornavam. [...] O mundo da Reforma elevou o casamento ao estado ideal para as
mulheres, e os evangélicos, que se identificam fortemente com o legado da
Reforma [...] fizeram o mesmo.
Rute Salviano em seu
livro Teólogas da Idade Medieval[3]
traz a biografia de muitas dessas mulheres que antes de qualquer carreira,
ministério ou função, eram discípulas de Jesus. Servas que renunciaram seus
próprios desejos e planos para abraçar a cruz e a missão de Deus.
Qual
seria o padrão bíblico de feminilidade?
O padrão de
feminilidade bíblica é o de Maria de Betânia (Lucas 10: 39; João 12:3-8), estar aos
pés de Jesus e aceitar seu discipulado com toda mente, coração e força. Esse é
o padrão, tanto para homens como para mulheres. Antes de qualquer função, somos
chamadas para ser discípulas. Muitas serão chamadas para ser esposas, mães,
donas de casa, mas também terão outras que serão chamadas para o celibato, e
isso não é maldição. Muitas serão chamadas para o ministério da palavra, para a
apologética, missões transculturais e o pastoreio, todavia, outras serão
chamadas para serem juízas, advogadas, vereadoras, deputadas e porque não,
representantes de uma nação. E em todas essas funções e serviços viveremos para
a glória de Deus!
Conclusão
A Bíblia mostra a
atuação de muitas mulheres na edificação da casa de Deus. Muitas foram
anfitriãs de igrejas domésticas, como Priscila. Outras foram evangelistas, como
Dorcas. As filhas de Tiago exerciam seu dom de profecia (entendido como
pregação das escrituras ou como palavra de conhecimento, exortação e consolo) quando
os santos se reuniam. Júnia, foi chamada apóstola (Romanos 16:7). Febe exercia cargo de
liderança na igreja primitiva (Romanos 16:2). Sem citarmos exemplos do Antigo
Testamento, como os de Débora e Hulda. A Bíblia e a história da Igreja tem exemplos
suficientes tanto de homens como mulheres que edificaram o Corpo de Cristo.
Não precisamos de uma
hermeunêutica feminista[4]
para reconhecermos o ministério feminino em nossas igrejas, independente se
você defende uma posição complementarista[5],
há um essencial que nos une, o sacerdócio universal de todos os crentes. Todos
os discípulos e discípulas de Jesus foram comissionados a ir e pregar o
evangelho.
Por conta dos
estereótipos de feminilidade e masculinidade construídos a partir de uma
hermenêutica equivocada das escrituras (e que tem sido fortalecido nessas
últimas décadas) temos colocado o casamento, filhos e família como os bens mais
preciosos que podemos adquirir. Temos transformado criações belas e legitimas
em ídolos. E ao estabelecermos tais ídolos em nossos corações, ensinamos outros
a fazerem o mesmo. Que Deus nos livre de vivermos para nossa própria glória, e
nos dê a graça de que Ele seja glorificado em tudo que fizermos. Que Ele nos
conceda contentamento em todas as circunstâncias de nossa vida, nos lembrando
sempre que ELE É suficiente!
[1]
BTCast MC 028, você pode ter acesso por meio desse link:
https://www.youtube.com/watch?v=eNyBKkkYAjI
[2] A
Construção da feminilidade bíblica – Editora Thomas Nelson
[3]
Publicado pela Thomas Nelson Brasil em parceria com a GodBooks.
[4]
Uma das vertentes liberais de interpretação da Bíblia. Normalmente essas linhas
de interpretação considera apenas parte das escrituras como “Palavra de Deus”.
[5]
Posição teológica que não concorda com a ordenação feminina ao ministério
pastoral e liderança eclesiástica.
Amém!! Glória a Deus!! Profundo❤️🔥🔥🔥
ResponderExcluirFortíssimo! *Todos os discípulos e discípulas de foram Comissionados a ir e Pregar o Evangelho.* Aleluia!
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