Tapeceiro
Grande artista
Vai fazendo o seu trabalho
Incansável, paciente
No seu tear
Tapeceiro
Não se engana
Sabe o fim desde o começo
Trança voltas, mil desvios
Sem perder o fio
(Stênio Marcius)
Não sei se você já
ouviu falar sobre a renomada obra de nosso irmão de fé J. R. R. Tolkien, O
Senhor dos Anéis. No Brasil as obras de Tolkien se popularizaram por meio das
produções cinematográficas, dirigidas por Peter Jackson[1]. O
primeiro livro (filme) da série de O Senhor dos Anéis (The Lord of rings) tem
como subtítulo no original, “The fellowship of the ring”[2]. A
palavra fellowship foi traduzida para
o português como “sociedade”. Talvez a palavra sociedade tenha sido escolhida
por soar melhor como título da obra, mas ela não exprime completamente o
significado de fellowship. Ao checar no dicionário é possível perceber que a gama de significado é mais
profunda, e quando observamos o uso corrente dessa palavra pelos falantes do
inglês, é possível perceber que tem mais a ver com amizade, comunhão, fraternidade e
companheirismo[3].
É exatamente isso que
vemos na história de Frodo Baggins e seus amigos. É fato que um compromisso (como
sociedade) é feito no início da caminhada, mas a jornada até às Montanhas da
Perdição forja cada integrante da Sociedade do Anel, levando-os a desenvolverem
uma amizade e comunhão incrível. Os campos de batalhas, as perseguições,
perigos eminentes e a própria luta contra si mesmos são elementos cruciais para
transformar amizades em irmandades. Como bem disse o autor de Provérbios: “O
amigo ama em todo tempo, e na angústia nasce o irmão.”[4].
Eu chamo essas amizades
de irmandade de alma, elas ultrapassam as barreiras linguísticas, sociais e
principalmente do orgulho. Quando temos a oportunidade de experimentá-las é um
verdadeiro oásis em meio ao deserto.
Da
ficção para a realidade
Da ficção para a
realidade ou da realidade para a ficção? Quem inspira quem? É uma pergunta
difícil de responder. Ficção e realidade estão tão entrelaçadas quanto passado-presente-futuro. A ficção se inspira na realidade e segue inspirando a
realidade. Amizades improváveis como a de um elfo e um anão – Legolas e Gimli. Será
que você tem uma amizade assim, de um grupo étnico (cultural) bem diferente do
seu? Ou alguém com uma personalidade bem diferente da sua, mas, ao mesmo tempo
vocês possuem algo em comum e muito poderoso que os une.
Amizades que suportam
rejeições, crises e muito sofrimento, é o que vemos na jornada de Sam e Frodo. Já
ouvi comentários críticos em relação à subserviência de Sam para com Frodo, sua
humildade e quebrantamento assustam muitos leitores (expectadores) que não
conhecem os ensinamentos de Jesus a respeito de lavar os pés uns dos outros e
levar as cargas uns dos outros. Esse tipo de amizade é assustadora para o mundo
em que vivemos. Em todos os nossos relacionamentos vamos querer algo em troca,
não estaremos disponíveis para alguém que se sente superior a nós ou que não
“merece” nosso amor e tempo. Essa amizade sacrificial lembra muito Jesus, ou mesmo, uma
mãe que está disposta a amar os que não “merecem” ser amados.
Poderia citar outros
exemplos dentro dessa mesma obra, mas, meu intuito aqui é ressaltar o impacto
que essas amizades tiveram na história de cada indivíduo e de toda a terra
média[5]. A
Sociedade do Anel é formada com um único objetivo em comum, destruir o “um
anel” e impedir o avanço do mal. Ao final da jornada é possível perceber que nenhum
dos personagens é mais o mesmo, foram transpassados por pessoas, eventos e
situações. Mas, algo que quase não observamos ou paramos para pensar é o
impacto que essas amizades tiveram no macro, na história de todo o universo
(Cosmo). Nossas amizades podem ter impacto na eternidade. Deus nos ensina a
desenvolver amizades para contribuir com a história da redenção.
Tolkien
e C. S. Lewis
Talvez você não saiba,
mas algo muito interessante é que Tolkien, o escritor de “O Senhor dos Anéis” e
C. S. Lewis, o criador das “Crônicas de Nárnia” eram amigos. Essa amizade teve
forte influência nas produções literárias de ambos. Alister McGrath[6]
relata que o primeiro encontro do dois se deu em um chá da tarde, tradicional
costume inglês. O chá transformou-se em grupo de estudo, correspondências
trocadas, e depois, em uma amizade que afetou suas vidas por completo. “Alguém precisava ajudá-lo [Tolkien] a dominar seu perfeccionismo. E aquilo que
Tolkien precisava ele encontrou em Lewis”.
Com certeza eles não
faziam ideia do impacto que suas obras (amizade) teriam na história da
redenção, pessoas de diversas gerações e diferentes línguas foram tocadas pelos
escritos de tão renomados escritores. Nárnia, O Senhor dos Anéis, O Hobbit e as
demais obras oriundas da Terra Média, tiveram suas raízes firmadas nas
Escrituras e até os dias de hoje atrai a atenção dos mais diversos públicos.
Comunhão
em terras distantes
Fomos criados para viver em comunidade, por mais que muitos tentem dizer o contrário, nascemos para habitar uns nos outros. Olhando mais uma vez para a jornada de Frodo e seus amigos, é possível perceber que ao se separarem o fizeram em dupla ou trio. Estar distante de casa, imerso em um cultura e língua diferente da sua pode fazer a jornada um pouco mais pesada. Mas, Deus, em sua soberania, sempre prepara parcerias e amigos de alma ao longo da estrada.
A princípio o leitor
pode pensar que foram as adversidades, os Orcs, o um Anel que os levaram àquelas
condições, mas, o autor tinha controle sobre a história. Deus continua no
controle da história da humanidade, e na história de cada um de seus filhos e
filhas. Como um tapeceiro que tece um belo tapete, Ele vai tecendo nossas
histórias, nos fazendo mais parecidos com Ele!
Conclusão
Peter J. Leithart[7]
fala o seguinte sobre nossas relações (amizades, casamento, maternidade...): Outras pessoas fazem morada em nós, quer as
recebamos bem ou não. Somos quem somos por causa dos outros que “nos habitam”. E
viver em amor significa que permitimos essa habitação, abrimos nossas portas a
outros, e buscamos habitar neles. Nossas relações de habitação mútua nos
revela a realidade do próprio Deus – Pai, Filho e Espírito Santo.
Nossas comunidades
cristãs foram projetadas para ser assim, orgânicas e profundas. Nossas reuniões
nas igrejas e principalmente nas casas deveriam ser desejadas e ansiadas por
todos nós. Se não está assim, é porquê está faltando mais do Cristo crucificado
em nós. É porquê ainda não entendemos o motivo pelo qual estamos nesse mundo. É
porquê ainda não entendemos de onde viemos e para onde estamos indo. Peregrinos,
que saíram da cidade da Destruição e esperam pela cidade Celestial[8].
Eu sei que ter amigos
não é tarefa fácil, pois isso precisa começar em nós, e na maioria das vezes
estamos bem fechados. A sociedade diz: “Não confie! Não perca seu tempo!”, mas
Jesus nos diz: “Não tem amor maior do que este: dar a vida pelos seus amigos[9]”.
O reino de Jesus é um reino de amigos. O Reino de Jesus é feito de fellowship.
[1]
Esse diretor, neozelandês, foi responsável pelas produções da Trilogia do
Senhor dos Anéis (A sociedade do anel 2001/ As duas torres 2002 / O Retorno do
Rei 2003) e Trilogia O Hobbit (2012, 2013 e 2014).
[2] A
Sociedade do Anel
[3]
Meu objetivo não é criticar quem fez a tradução do termo, somente explorar a
gama de significados do termo e relacioná-lo com a obra em si.
[4]
Provérbios 17:17
[5] É
assim que se chama o mundo de Tolkien e seus personagens.
[6] A
vida de C. S. Lewis – Do ateísmo às terras de Nárnia. Editora Mundo Cristão.
[7]
Vestígios da Trindade, editora: Monergismo.
[8]
Referência ao clássico cristão: O Peregrino de John Bunyan.
[9]
João 15:13-15
Glória a Deus! 🔥🔥🔥 🙏
ResponderExcluir*Amizades.* "Aprendi mais um novo significado dela." Desfrutar da amizade com JESUS, e fazê-LO Conhecido através de muiTas amizades! *Gratidão May!* Fui muito edificada.
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